23.12.2012 - O Papa Bento XVI, no dia 1 de Fevereiro de 2006 apresentou
aos jovens o Fundador dos Salesianos, São João Bosco, sacerdote e
educador, como “mestre de vida”: «Contemplai nele, queridos jovens, um
autêntico mestre de vida e de santidade».
"Darei tudo para ganhar o coração dos jovens e, assim, poder ganhá-los para o Senhor"
São João Bosco
Desejo, meus filhos, que façais diariamente um pouco de meditação. Por
isso, ofereço-vos alguns breves pensamentos para cada dia da semana, e
espero que os lereis com atenção, caso não tenhais outro livro mais
apropriado.
Depois de vos terdes ajoelhado, dizei:
"Meu Deus, arrependo-me de todo o coração por Vos ter ofendido;
peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de me
inflamar de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por
mim".
Domingo - A finalidade do homem
1º) - Considera, meu filho, que Deus te criou à sua imagem e
semelhança, que te deu uma alma e um corpo, sem que da tua parte
houvesse para isso nenhum mérito. Ademais, pelo Batismo Deus fez-te seu
filho, amou-te sempre e ama-te ainda como Pai amoroso; o único fim para o
qual te criou é para que O ames e O sirvas nesta vida, e assim possas
merecer um dia ser eternamente feliz com Ele no Paraíso.
Não penses que vives neste mundo para divertir-te, enriquecer-te,
comer, beber e dormir, como os animais irracionais; pois o fim para o
qual foste criado é infinitamente mais nobre e mais sublime; ou seja,
para amar e servir a Deus nesta vida, e salvar assim a tua alma.
Se procederes assim, que consolo sentirás na hora da morte!...Mas, se
pelo contrário não pensares seriamente em servir a Deus, que remorsos
não sentirás naquele instante, em que reconhecerás claramente que as
riquezas e os prazeres, que tanto procuraste na terra, só serviram para
encher de amarguras o teu coração, fazendo-te ver o dano que causaram à
tua alma!
Por isso, meu filho, não queiras ser daqueles que só pensam em
satisfazer o corpo com actos, palavras e divertimentos censuráveis; e no
fim da vida se encontrarão em grande perigo de perdição eterna.
O secretário de um rei da Inglaterra morreu exclamando: "Infeliz de
mim! Gastei tanto papel para escrever as cartas do meu senhor, e não
empreguei sequer uma folha de papel para anotar os meus pecados e fazer
uma boa confissão!"
2º) - Verás melhor a importância do teu fim se considerares que a tua
salvação eterna ou a tua eterna condenação dependem de ti.
Se salvas a tua alma, muito bem, serás feliz para sempre; mas se a
perdes, perdes tudo: alma, corpo, Céu, Deus que é o teu fim...E para
toda a eternidade serás desgraçado!
Não imites a loucura dos desgraçados que dizem: "Vou cometer agora este
pecado, mas depois me confessarei". Não te enganes a ti mesmo com tais
palavras, porque o Senhor amaldiçoa o homem que peca na esperança de
obter perdão.
Lembra-te de que os condenados que estão no Inferno tinham a intenção
de mais tarde se converter, e apesar disso perderam-se por toda a
eternidade.
Estás seguro de que Deus te concederá tempo para te confessares?
Quem te garante que não morrerás logo depois de pecar e que a tua alma não será precipitada imediatamente no Inferno?
Não achas que seria loucura se te feristes gravemente, na esperança de encontrar depois um médico que te curasse?
Renuncia, pois, ao pensamento enganador de só mais tarde te consagrares
ao serviço de Deus; hoje mesmo detesta e abandona o pecado, que é o
maior de todos os males e que, desviando-te do teu fim último, te priva
de todos os bens.
3º) - Quero também que conheças um terrível laço de que se serve o
demónio para prender e levar à perdição grande número de cristãos: é
deixar que se instruam na Religião, mas que depois não a pratiquem.
Sabem perfeitamente que Deus os criou para amá-Lo e servi-Lo; e no
entanto empregam todo o tempo em lavrar a própria ruína eterna! De
facto, quantas pessoas há no mundo que pensam em tudo, menos na sua
salvação!
Se se diz a um jovem que frequente os Sacramentos, que faça um pouco de
oração, etc., ele responde: "Tenho outras coisas que fazer, tenho que
trabalhar, que me divertir...". Ó infeliz! E não tens uma alma para
salvar?
Quanto a ti, jovem católico que lês estas considerações, não te deixes
enganar pelo demónio; promete a Deus que de agora em diante todas as
tuas palavras, pensamentos e ações se orientarão para a salvação da tua
alma.
Grave loucura seria procurares com afinco o que deve acabar em pouco tempo e te esqueceres da eternidade que não tem fim.
São Luís Gonzaga poderia ter gozado de todos os prazeres, honras e
riquezas deste mundo, mas renunciou a todos eles dizendo: "De que me
servem estas coisas para a vida eterna?"
Conclui tu também com este pensamento: "Tenho uma alma; se a perco,
perco tudo. Ainda que ganhasse o mundo inteiro à custa da minha alma, de
que me aproveitaria?"
De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?
Se chego a ser um grande homem, um ricaço, se consigo atingir a
celebridade como sábio que domina todas as ciências e todas as artes do
mundo, mas depois perco a minha alma, de que me adiantarão todas estas
coisas?
A própria sabedoria de Salomão não me valeria de nada se me condenasse. Diz, pois assim:
"Deus criou-me para salvar a minha alma, e quero salvá-la a todo o
custo; amar a Deus e salvar a minha alma serão, a partir de agora, o
único objetivo de todos os meus cuidados. Trata-se de ser eternamente
feliz ou eternamente desgraçado; devo estar resolvido a perder tudo para
me salvar. Meu Deus, perdoai os meus pecados e não permitais que nunca
mais tenha a desgraça de Vos ofender; ajudai-me com a vossa santa graça
para que Vos possa amar e servir fielmente. Maria, minha esperança,
rogai por mim".
Segunda-Feira - O Pecado mortal
1º) - Se soubesses, meu filho, o que fazes cometendo um pecado mortal!
Voltas às costas a Deus, que te criou e cumulou de benefícios;
desprezas a sua graça e a sua amizade; e dizes com os teus actos:
"Afastai-Vos de mim, Senhor, já não Vos quero obedecer, nem servir, nem
Vos reconhecer por meu Deus. Não Vos servirei! Quero que o meu deus
seja este prazer, esta vingança, esta cólera, esta má conversação, esta
blasfêmia..."
Pode-se imaginar ingratidão mais monstruosa?
Entretanto, meu filho, foi isto o que fizeste todas as vezes que ofendeste ao teu Senhor.
2º)- Esta ingratidão é mais grave porque, para a cometer, tu te serves
dos próprios dons que Deus te deu: ouvidos, olhos, boca, língua, mãos e
pés foram-te dados por Deus, e tu os empregaste para ofendê-Lo.
Ouve o que te diz o Senhor:
"Meu filho, Eu criei-te do nada; Eu dei-te tudo o que tens; nasceste na
verdadeira Religião; Eu concedi-te a graça do Batismo; podia ter-te
deixado morrer quando estavas em pecado, e conservei-te a vida para não
te mandar para o Inferno; e tu, esquecendo tantos benefícios, queres
servir-te destes meios que Eu mesmo te dei, para Me ofender?
Como não morrer de dor diante desta enorme injúria lançada contra um
Deus tão bom e tão benéfico em relação a nós, míseras criaturas suas?
3º)- Considera ainda que este Deus, apesar da sua bondade e
misericórdia infinitas, não deixa de estar justamente indignado com as
tuas ofensas, e que, quanto mais continuas a viver no pecado, tanto mais
excitas contra ti a sua cólera.
Deves por isso temer que o senhor te abandone, se multiplicas os teus
pecados. Não porque te falte a sua misericórdia, mas porque não terás
tempo de pedir perdão, já que não merece a misericórdia do Senhor quem
abusa dela para ofendê-Lo.
Grande é o número dos pecadores que viveram no pecado com a esperança
de se converterem, e a morte chegou quando menos a esperavam. Deus não
lhes deu tempo e, agora, estão perdidos para sempre.
Não tremes em pensar que pode acontecer-te o mesmo?
Depois de tantas culpas que Deus te perdoou, não poderá Ele castigar-te
ao primeiro pecado mortal que cometas, e precipitar-te logo no Inferno?
Dá-Lhe graças por te ter esperado até agora e toma uma firme resolução,
dizendo: "Ó meu Deus, quanto Vos ofendi até ao presente! Basta! Quero
empregar toda a vida que me resta em Vos amar, em chorar os meus
pecados, arrependendo-me deles de todo o coração; meu Jesus, quero
amar-Vos, dai-me forças. Virgem Santíssima, Mãe de Deus, ajudai-me.
Assim seja.
Terça-Feira - A morte
1º) - A morte consiste na separação da alma e do corpo, ficando completamente abandonadas todas as coisas deste mundo.
Considera, meu filho, que a tua alma deve necessariamente separar-se do
coro, mas não sabes quando, nem onde, nem como te surpreenderá essa
separação.
Não sabes se ela te apanhará na cama, no trabalho, na rua ou noutro lugar.
A ruptura de uma veia, uma infecção pulmonar, uma febre, um ferimento,
um tombo, um terremoto, ou um raio são suficientes para te tirar a vida.
E isto pode acontecer-te dentro de um ano, de um mês, de uma semana, de uma hora ou talvez mal acabes de ler esta página.
Quantos estavam bem à noite, quando se deitaram, e foram encontrados
mortos no dia seguinte! Quantos, atacados de apoplexia, morreram
rapidamente. E para onde foram depois?
Se estavam na graça de Deus, felizes deles, são eternamente felizes. Se
estavam no pecado, serão atormentados para todo o sempre.
E tu, meu filho, se morresses neste momento, o que seria da tua alma?
Infeliz de ti se não estás preparado, porque o que não está pronto para
morrer bem hoje, corre grande risco de morrer mal!
2º)- O lugar e a hora da tua morte não te são conhecidos, mas é
certíssimo que ela virá. Ainda supondo que não te surpreenda uma morte
repentina ou violenta, sem embargo, a última hora da tua vida há de
chegar.
Nessa hora, estendido sobre o leito, assistido por um sacerdote que
rezará junto de ti as orações dos agonizantes, rodeado pela tua família
que chora, com o crucifixo numa mão e uma vela acesa na outra, te
encontrarás às portas da eternidade.
A tua cabeça sentirá dores e não encontrarás repouso; a tua visão
estará obscurecida; a tua língua estará a arder; a tua garganta, seca, o
teu peito, oprimido, o sangue gelará nas tuas veias; o teu corpo será
consumido pela enfermidade e o teu coração transpassado por mil dores.
Quando a alma tiver abandonado o corpo, este coberto com uma mortalha,
será lançado num buraco, onde se converterá em podridão; os vermes o
devorarão, e de ti só restarão alguns ossos descarnados e um pouco de pó
mal cheiroso.
Abre uma tumba e observa o que restou de um jovem rico, de um homem
poderoso no mundo; pó e podridão...O mesmo te acontecerá a ti.
Lê estas considerações com atenção, meu filho, e lembra-te de que elas se aplicam a ti, como a todos os outros homens.
Agora o demónio, para te induzir a pecar, esforça-se por te distrair
deste pensamento, por encobrir e escusar a culpa, dizendo-te que não há
grande mal em tal prazer, em tal desobediência, em faltar à Missa ao
domingo; mas no momento da morte te fará conhecer a gravidade das tuas
faltas e as representará a todas vivamente, diante de ti.
Que farás tu naquele terrível instante? Desgraçado de quem então se encontrar em pecado mortal!
3º)- Considera também que do momento da morte depende a tua felicidade ou desgraça eterna.
Estando para dar o último suspiro e à luz daquela última chama, quantas coisas veremos!
A Igreja acende duas velas por nós: uma no nosso Batismo, outra na hora
da nossa morte; a primeira, para nos mostrar os preceitos da lei de
Deus, que devemos observar; a segunda no transe da nossa morte, para
examinarmos se os observamos corretamente.
Por isso, meu filho, à claridade daquela última luz verás se amaste a
Deus durante a tua vida ou se O desprezaste; se respeitaste o seu santo
Nome ou se O ofendeste com blasfêmias.
Verás as festas que profanaste, as Missas que não ouviste, as
desobediências aos teus superiores, os escândalos que destes aos teus
companheiros.
Verás aquela soberba e aquele orgulho que te enganaram; verás...
Mas (oh! meu Deus) tudo aquilo verás no momento em que se abre diante
de ti o caminho da eternidade, momento do qual depende a eternidade
inteira. Sim, daquele momento depende uma eternidade de glória ou de
tormentos.
Compreendes bem o que te estou a dizer? Daquele momento depende para ti
o Paraíso ou o Inferno; o ser para sempre feliz ou desgraçado, para
sempre filho de Deus ou escravo do demónio, para sempre gozar com os
Anjos e Santos no Céu ou gemer e arder para todo o sempre com os
condenados no Inferno.
Teme muito pela tua alma, e reflete que de uma vida santa e boa dependem a boa morte e a eterna glória.
Sem perda de tempo, põe em ordem a tua consciência com uma boa
Confissão, prometendo ao Senhor perdoar aos teus inimigos, reparar os
escândalos que deste, ser mais obediente, não perder mais o tempo,
santificar os dias consagrados a Deus, cumprir os deveres do teu estado.
E deste já, lançando-te aos pés de Jesus, diz-Lhe: "Meu Senhor e meu
Deus, desde agora me converto a Vós; amo-Vos e quero-Vos amar e servir
até à morte. Virgem Santíssima, minha Mãe, ajudai-me naquele momento
terrível. Jesus, Maria e José, que a minha alma expire em paz nos vossos
braços".
Quarta-Feira - O Juízo
1º) - É a sentença que o Salvador pronunciará no final da nossa vida,
sentença com a qual será fixada a sorte de cada um de nós por toda a
eternidade.
Quando tiver saído do corpo, a alma comparecerá imediatamente diante do
divino Juiz. Esse encontro é terrível para o pecador, porque a sua alma
se apresenta sozinha diante de um Deus ao Qual desprezou e ofendeu, de
um Deus que conhece até ao último pensamento do seu coração.
Quem nos acompanhará naquele momento? Nada levaremos deste mundo, senão
o bem ou o mal que tivermos feito, sejam bons, seja maus. Não haverá
desculpas nem pretextos.
Santo Agostinho, falando daquele terrível instante, exprime-se assim:
"Ó mortal, quando compareceres diante do criador para seres julgado, tu
te encontrarás diante de um Juiz cheio de indignação, os teus pecados te
acusarão; os demónios estarão prontos a executar a sentença; dentro de
ti mesmo terás a consciência que te agita e te atormenta; e a teus pés o
Inferno estará aberto para te engolir. Em tal aflição, para onde irás,
para onde fugirás?"
Ditoso de ti, meu filho, se procedeste bem durante a vida!
2º) - Depois, o divino Juiz abrirá o livro das consciências e dará início ao exame:
- Quem és tu? Te perguntarás o Juiz inapelável.
- Sou um cristão.
- Bem, se és cristão, verei se te comportaste como tal.
Então começará a recordar-te das promessas feitas no Batismo, pelas
quais renunciaste ao demónio, ao mundo e à carne; te representará as
graças que te concedeu, os Sacramentos que recebestes, as pregações, as
instruções, os conselhos dos teus confessores, as correções dos teus
pais, tudo isto te será colocado diante dos olhos.
- Mas tu, dirá o divino Juiz, apesar de tantos dons, de tantas graças,
como correspondeste mal à fé que professaste! Logo que chegaste ao uso
da razão, começaste a ofender-Me com mentiras, com faltas de respeito na
igreja, com desobediências aos pais e com muitas outras transgressões
dos teus deveres. Se pelo menos te houvesses portado bem quando te
tornaste mais crescido! Mas com a idade só cresceste no desprezo da
minha lei. Missas perdidas, profanações de dias festivos, blasfêmias,
más conversas, confissões mal feitas, Comunhões às vezes sacrílegas,
escândalos dados aos teus companheiros; eis o que fizeste em vez de Me
servires!"
Ao escandaloso, Se dirigirá cheio de indignação e dirá:
- Vês aquela alma que caminha pela senda do pecado? Foste tu que lhe
ensinaste a maldade com as tuas palavras escandalosas; se tivesses sido
bom cristão, deverias ter ensinado aos teus companheiros o caminho do
Céu; mas fizeste exatamente o contrário, ensinando-lhes o caminho da
perdição. Vês aquela alma que está no Inferno? Foste tu que ma roubaste
com os teus pérfidos conselhos e a entregaste ao demónio, sendo tu a
causa da sua perdição eterna. Agora a tua alma pagará a perfídia daquele
escândalo.
Que te parece deste exame, meu filho? Que te dirá tua consciência?
Ainda tens tempo, se quiseres. Pede a Deus perdão dos teus pecados,
prometendo sinceramente nunca voltar a ofendê-Lo, e começa hoje mesmo
uma vida cristã. Assim poderás adquirir um tesouro de boas obras para
quando tiveres que comparecer diante do tribunal de Jesus Cristo.
3º) - Em vista de um exame tão rigoroso pelo divino Juiz, o pecador
tratará de se desculpar, dizendo que não esperava ser julgado com tanta
severidade. Mas o Senhor lhe responderá:
- Não ouviste naquela pregação do catecismo, não leste naquele livro que Eu ia pedir conta de tudo?
O desgraçado lembrar-se-á então da misericórdia divina; mas já não
haverá misericórdia para ele, porque não merece misericórdia quem por
tanto tempo abusou dela; com a morte acabou o tempo da misericórdia.
A alma lembrar-se-á dos Anjos, dos Santos, de Maria Santíssima; mas Ela em nome de todos dirá:
"Queres agora a minha proteção? Não Me quiseste por Mãe durante a tua
vida. Agora também não te quero mais por filho; já não te conheço".
Então o pecador, encontrando-se perdido, pedirá gritando às montanhas e
penhascos que o escondam; mas estes não se moverão. Invocará o Inferno,
e o verá aberto diante de si.
Nesse mesmo momento, o Juiz inexorável proferirá a terrível sentença:
- Vai-te, filho infiel! Afasta-te de Mim! Meu Pai Celestial te
amaldiçoa. Eu também te amaldiçoo! Vai-te para o fogo eterno, a gemer e
penar no inferno, com os demónios, por toda a eternidade!
Aquela alma desgraçada, antes de se afastar para sempre do seu Deus,
voltará uma última vez o olhar para o Céu e, no cúmulo do desespero,
exclamará:
"Adeus, companheiros; adeus, amigos, que habitais no reino da glória;
adeus pai, mãe, irmão, irmãs, vós gozareis eternamente, e eu serei para
sempre atormentado, adeus. Anjo da minha guarda, Anjos e Santos do
Paraíso, nunca vos verei, adeus, meu Salvador, Cruz santa, sangue divino
derramado inutilmente por mim! Neste momento deixo de ser filho de Deus
para ser no Inferno escravo do demónio".
Então aquela alma infeliz cairá nas garras dos demónios, que a
arrastarão e precipitarão nos abismos de penas, de misérias e de
tormentos eternos.
Não temes, meu filho, que te aconteça o mesmo? Ah! Por amor de Jesus e
de Maria, prepara-te com boas obras para merecer uma sentença favorável.
Lembra-te de que, quanto mais é espantosa a sentença proferida contra o
pecador, tanto mais consoladoras serão as palavras de Jesus para o
homem que tenha vivido cristãmente: "Vem; vem tomar posse da glória que
te preparei. Tu Me serviste com fidelidade no breve tempo da tua vida;
agora serás eternamente feliz. Entra no gozo do teu Senhor".
Meu Jesus, concedei-me a graça de ser do número desses bem-aventurados.
Virgem Santíssima, ajudai-me, protegei-me na vida e na morte, e
especialmente quando me apresentar no tribunal de vosso divino Filho
para ser julgado!
Quinta-Feira - O Inferno
1º) - O Inferno é um local destinado pela Justiça divina para castigar com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal.
A primeira pena que os condenados padecem no Inferno é a dos sentidos,
por ser todo o seu corpo atormentado por um fogo que arde horrivelmente
sem nunca diminuir.
Este fogo penetrará pelos olhos, pela boca e por todo o corpo, e cada um dos sentidos padecerá uma pena especial.
Os olhos ficarão obscurecidos pelo fumo e pelas trevas, e aterrorizados ao ver os demónios e os outros condenados.
Os ouvidos não ouvirão incessantemente senão gritos, uivos, prantos e blasfêmias.
O olfato será atormentado com o mau cheiro do enxofre e betume ardentes, que o sufocará.
A boca sofrerá sede ardentíssima e padecerá uma fome canina: "Sofrerão
fome como cães" (Sl 58,7; 15).Deus permitiu que o rico Epulão, no meio
aqueles tormentos, dirigisse um olhar a Lázaro, pedindo por misericórdia
uma gota de água para aliviar o ardor que o consumia; mas até esta lhe
foi negada.
Aqueles infelizes, no meio das chamas, devorados pela fome e sede,
atormentados por um fogo que não cessa, bradam, uivam e desesperam.
Ah! Inferno, Inferno, como são desgraçados os que caem nos teus abismos!
E tu, meu filho, que dizes?
Se tivesses que morrer neste momento, para onde irias?
Se não podes suportar agora a ligeira chama de uma vela na mão, como poderás sofrer aquelas chamas por toda a eternidade?
2º) - Considera por outro lado, meu filho, o remorso que sentirá a
consciência dos condenados. A sua memória, entendimento e vontade
padecerão terrivelmente tormentos.
Recordarão continuamente o motivo porque se perderam, isto é, por terem
querido satisfazer uma paixão qualquer, e este pensamento será para
eles um verme roedor que nunca morrerá.
Pensarão no tempo que Deus lhe tinha concedido para se salvar da
perdição; nos bons exemplos dos seus companheiros; nos propósitos feitos
e não postos em prática. Pensarão nas pregações ouvidas, nos conselhos
dos seus confessores, nas boas inspirações para deixar o pecado... E,
vendo que já não há remédio, lançarão uivos desesperados.
A vontade nunca terá nada do que deseja, sofrendo pelo contrário todos os males.
O entendimento conhecerá o bem imenso que perdeu. A alma, separada do
corpo e apresentada diante do divino tribunal, entreviu a beleza de
Deus, conheceu a sua bondade, contemplou por um instante o esplendor do
Paraíso, terá ouvido talvez os dulcíssimos e harmoniosos cantos dos
Anjos e Bem-aventurados. Que dor, vendo que tudo isto lhe é arrebatado
para sempre!
Que horrorosos tormentos! Quem poderá suportá-los?
3º) - Meu Filho, que agora não te preocupas em perder a Deus e o
Paraíso! Esperas por acaso conhecer a tua cegueira, quando tantos
companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu, estiverem
gloriosos e triunfantes no reino dos céus, e tu estiveres maldito por
Deus e lançado fora daquela pátria bem-aventurada, do gozo de Deus, da
companhia da Virgem Santíssima e dos Santos?
Decide-te, pois, a servir ao Senhor, e faz penitência. Não aguardes
para quando não haja mais tempo. Entrega-te a Deus. Quem sabe se esta
meditação não será o teu último convite da graça! Se não lhe
correspondes, tu te expõe a que Deus te abandone e te deixe cair nos
eternos suplícios.
Ah! Senhor, livrai-me das penas do inferno!
Sexta-Feira - A eternidade das penas
1º) - Considera, meu filho, que se caíres no Inferno, dele jamais
saíras. Nele se padecem todas as penas, e todas elas para sempre.
Passarão cem anos, mil anos, e o Inferno estará apenas a começar;
passarão cem mil anos, cem milhões de anos, milhões de milhões de anos e
de séculos...e o Inferno estará ainda apenas a começar.
Se um Anjo anunciasse a um condenado que Deus haveria de o livrar do
Inferno depois de passar tantos milhões de séculos como gotas de água
que há no mar, ou folhas de árvores e grãos de areia no mundo, esta
notícia lhe causaria logo um consolo indizível. "É certo, exclamaria,
que é imenso o número de séculos que sofrerei, afinal, haverá um dia em
que eles acabarão".
Mas, ai! passarão esses milhões de séculos e uma infinidade de outros, e o Inferno estará sempre apenas a começar.
Cada condenado quereria poder dizer a Deus: "Senhor, aumentai quanto
quiserdes as minhas penas, e fazei-me permanecer aqui o tempo que
quiserdes, contanto que me deis a esperança de ver este suplício acabar
um dia!"Mas não! Este término e esta esperança jamais chegarão.
2º)- Se ao menos o condenado pudesse iludir-se a si mesmo, pensando
consigo: "Quem sabe se Deus algum dia terá piedade de mim e me tirará
deste abismo!"
Mas, não! Nunca terá esta esperança! O condenado terá sempre presente a
sentença da sua condenação eterna: "Estes tormentos, este fogo, estes
horríveis gritos, eu os terei para sempre".
Sempre! verá escrito nas chamas que o devoram. Sempre! na ponta das
espadas que o transpassam; Sempre!, nas horríveis fisionomias dos
demónios que o atormentam; Sempre!, naquelas portas fechadas que nunca
se abrirão para ele!
Ó eternidade, ó abismo sem fundo! Ó mar sem limites! Ó caverna sem
saída! Quem não tremerá pensando em ti? Ó maldito pecado, que tremendos
suplícios preparas para quem te comete! Ah! Basta de pecados, basta de
pecados em toda a minha vida!
3º)- O que deve encher-te de espanto é pensar que esta horrível
fornalha está sempre aberta debaixo dos teus pés e que basta um único
pecado mortal para cair nela.
Compreendes, meu filho, isto que lês? Um pecado que cometes com tanta
facilidade merece uma pena eterna. Uma blasfêmia, uma profanação dos
dias festivos, um furto, um ódio, uma palavra, um acto, um pensamento
obsceno, bastam para condenar-te às penas do Inferno.
Ah! meu filho, ouve atentamente o meu conselho; se a consciência te
censura de algum pecado, vai imediatamente confessar-te para principiar
logo uma boa vida; põe em prática todos os conselhos do teu confessor e
se for necessário faz uma confissão geral; promete fugir das ocasiões
perigosas, das más companhias, e se Deus te chamar a deixar o mundo,
obedece-Lhe com prontidão.
Tudo o que se faz para evitar uma eternidade de tormentos é pouco, é
nada: "nenhuma segurança é excessiva quando está em jogo a eternidade",
escreveu São Bernardo.
Oh! quantos jovens na flor da idade abandonaram o mundo, a pátria, a
família e foram sepultar-se nas grutas e desertos, não vivendo senão de
pão e água, às vezes só de algumas raízes!...E tudo isto para evitarem o
Inferno!
E tu, o que fazes, depois de merecer tantas vezes o Inferno pelo pecado?
Lança-te aos pés do teu Deus e diz-Lhe: "Senhor, vede-me pronto a fazer
tudo o que quiserdes; já Vos ofendi demais até agora; de hoje em diante
não Vos quero mais ofender; enviai-me, se preciso, todos os males nesta
vida, desde que possa salvar a minha alma".
Sábado - O Paraíso
1º)- Quanto mais espanta a consideração do Inferno, tanto mais consola a
do Paraíso, que foi preparado por Deus para todos os que O amam e
servem na vida presente.
Para fazeres uma ideia dele, imagina uma noite serena.
Que belo é o céu, com tanta multidão e variedade de estrelas!
Umas são maiores que outras; enquanto algumas aparecem pelo Oriente,
outras desaparecem no Ocidente, sendo muito variadas no que diz respeito
ao tamanho, cor, etc.
Mas todas elas se movem, na imensidão do espaço, com admirável harmonia e segundo a vontade de Deus, seu Criador.
Imagina ademais que a luz do sol te deixe ver durante um belo dia a lua
e as estrelas que há no firmamento; imagina também tudo o que há de
precioso no mar, na terra, nos diversos países, nas cidades e nos
palácios dos reis e monarcas de todo o mundo; acrescenta a isto as mais
finas bebidas, os alimentos mais saborosos, a música mais doce, a
harmonia mais suave...Pois tudo isto é nada, comparado com a excelência
dos bens e dos gozos do Paraíso!
Quanto devemos desejar a posse daquele lugar, onde se gozam todos os bens, sem mescla alguma de mal!
A alma bem-aventurada só poderá exclamar: "Eu me saciarei com a visão da vossa glória" (Sl 16,15).
2º)- Considera, ademais, a alegria que tua alma sentirá ao entrar no Paraíso.
Sairão a recebê-la os teus parentes e amigos, e ali verás a nobreza e
beleza dos Querubins e Serafins, de todos os Anjos e de todos os Santos,
que em multidão louvam o seu Criador.
Verás também os Apóstolos, o imenso número de Mártires, Confessores e
Virgens, e uma grande multidão de jovens que se conservaram puros e por
isso cantam a Deus um hino de glória inefável.
Oh! quanto gozam naquele Reino os bem-aventurados! Estão sempre
alegres, pois não padecem o menor sofrimento, nem penas que venham
turbar a sua paz e contentamento.
3º)- Observa, filho, que tudo isto não é nada em comparação com o grande consolo que sentirá a alma ao ver Deus.
Ele consola os Bem-aventurados com o seu olhar amoroso e derrama no seu coração torrentes de delícias.
Assim como o sol ilumina e embeleza todos os objetos aonde chega a sua
luz, assim Deus ilumina com a sua presença todo o Paraíso e cumula os
seus felizes habitantes com prazeres inexprimíveis.
NEle, como num espelho, verás todas as coisas, gozarás de todos os prazeres da mente e do coração.
Quanto, no Monte Tabor, São Pedro viu uma única vez o rosto de Jesus
radiante de luz, foi cumulado de tanta doçura, que fora de si exclamou:
"É bom para nós estar aqui!" (Lc 9,33)
Que alegria será então o contemplar, não por um instante, mas para
sempre, a vista daquela face divina que apaixona os Anjos e os santos, e
que embeleza todo o Paraíso!
E a formosura e a amabilidade de Maria, de quanto gozo inundará o
coração dos bem-aventurados! "Como são amáveis as tuas moradas, Senhor
Deus dos Exércitos!" (Sl 83,2).
Por isso, todos os coros de Anjos e todos os Bem-aventurados cantarão a
sua glória, dizendo: "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos
exércitos! A Ele toda a honra e toda a glória, por todos os séculos dos
séculos".
Coragem, pois, meu filho! Algo terás que sofrer neste mundo, mas não
importa! O prémio que te espera no Paraíso compensará infinitamente
todos os males que tenhas padecido na vida presente.
Que consolo será o teu quando te encontrares no Céu em companhia de
parentes e amigos, dos Santos e dos Bem-aventurados, e puderes exclamar:
"Estou salvo e estarei para sempre com o Senhor!"
Então bendirás o momento em que deixaste o pecado, em que fizeste uma boa confissão e começaste e frequentar os Sacramentos.
Bendirás o dia em que, deixando as más companhias, te entregaste à
virtude. E, cheio de gratidão, te voltarás para o teu Deus e Lhe
cantarás louvores e glórias por todos os séculos dos séculos. Assim seja
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