domingo, 17 de fevereiro de 2013

Os Papas e Fátima

Desde as primeiras notícias das aparições de Fátima, os Papas deram mostras de simpatia e apoio.
Pio XI, além de outras manifestações públicas de simpatia, concedeu no dia 11 de Outubro de 1930 uma indulgência Santuario-Fatima_1especial aos peregrinos de Fátima.
Pio XII fez uma dezena de pronunciamentos sobre Fátima e declarou, em 8 de Maio de 1950: “Já passou o tempo em que se podia duvidar de Fátima”. Antes, em 3 de Outubro de 1942, consagrara a humanidade ao Imaculado Coração de Maria; a 11 de Outubro de 1954, ordenará que se renove anualmente a consagração do mundo a esse Coração. Em 1946, por meio do seu Legado, o Cardeal Masella, consagrou o mundo à realeza de Nossa Senhora de Fátima.
João XXIII, quando ainda Cardeal, esteve como peregrino no local das aparições, e em seu testamento legou a sua cruz peitoral ao Santuário de Fátima.
Paulo VI foi o primeiro Pontífice Romano a visitar Fátima, para comemorar o cinquentenário das aparições, em 13 de Maio de 1967. Antes disso, ao encerrar a III Sessão do Concílio Vaticano II, anunciou a sua intenção de enviar uma Rosa de Ouro ao Santuário de Fátima, como efetivamente o fez.
João Paulo II visitou o local das aparições três vezes, em 13 de Maio dos anos de 1982, 1991 e 2000. Nesta última ocasião beatificou os Pastorinhos, Francisco e Jacinta. Além disso, fez importantes pronunciamentos a respeito da atualidade da mensagem de Fátima, vários dos quais são citados na presente obra.PAPA Joao Paulo II_2
Na homilia da Missa de 13 de Maio de 1982, em Fátima quando ele disse: “O convite evangélico à penitência e à conversão, expresso com as palavras da Mãe, continua ainda atual. Mais atual mesmo do que há sessenta e cinco anos atrás. E até mais urgente” (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Libreria Editrice Vaticana, 1982, V, 2, p. 1575).
Em mensagem especial aos portugueses pela celebração dos 350 anos da proclamação de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal, João Paulo II recordou as importantes advertências feitas por Nossa Senhora em Fátima:
“Em horas de desatino, quando a alma da Nação parecia naufragar, foi visto ‘dançar o sol’ na Cova da Iria, ameaçando pôr termo aos dias do homem sobre a Terra, ao mesmo tempo que Nossa Senhora, através dos pastorinhos, fazia chegar à humanidade este queixume materno: Não ofendam mais a Nosso Senhor, que já está muito ofendido (Outubro 1917). Os homens esqueceram Deus e os seus Mandamentos, vivendo como se Ele não existisse” (Voz da Fátima, Fátima, 13/8/1996).
E na última visita ao Santuário, assim se expressou o Papa: “Na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio aqui, a Fátima, pedir aos homens para ‘não ofenderem mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido’. É a dor de mãe que A faz falar; está em jogo a sorte de seus filhos. Por isso, dizia aos pastorinhos: ‘Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas’. (Homilia na Missa de beatificação dos Pastorinhos, 13/5/2000).
Abaixo, excerto da Homilia em Fátima, 13 de maio de 2000, Servo de Deus João Paulo II:
A mensagem de Fátima é um apelo à conversão, alertando a humanidade para não fazer o jogo do “dragão” que, com a FATIMA E O PAPA_1“cauda, arrastou um terço das estrelas do Céu e lançou-as sobre a terra” (Ap 12, 4). A meta última do homem é o Céu, sua verdadeira casa onde o Pai celeste, no seu amor misericordioso, por todos espera.
Deus não quer que ninguém se perca; por isso, há dois mil anos, mandou à terra o seu Filho “procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19, 10). E Ele salvou-nos com a sua morte na cruz; que ninguém torne vã aquela Cruz! Jesus morreu e ressuscitou para ser “o primogênito de muitos irmãos” (Rom 8, 29).
Na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio aqui, a Fátima, pedir aos homens para “não ofenderem mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido”. É a dor de mãe que A faz falar; está em jogo a sorte de seus filhos. Por isso, dizia aos pastorinhos: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas”.
Bento XVI depositou aos pés de Nossa Senhora de Fátima o seu Pontificado. Eis os comentários do Cardeal Patriarca de Lisboa a esse respeito:
“Estou hoje aqui (em Fátima), talvez como muitos de vós, para cumprir uma promessa que fiz à Sua Santidade Bento XVI. Quando no fim do Conclave chegou minha vez de cumprimentá-lo e jurar-lhe comunhão e obediência, o Santo Padre agarrou-me as mãos e falou-me de Fátima. Então, prometi-lhe, e ele me agradeceu, que no próximo 13 de maio Papa Bento XVI_1eu viria pôr aos pés de Nossa Senhora o seu Pontificado. Assim, aqui estou a cumprir essa promessa e peço-vos a todos vós que me acompanheis com fé e amor, nesta consagração a Maria do Pontificado que agora começa” (Cardeal Patriarca de Lisboa, Sua Eminência Dom José Policarpo, 13/5/2005)
Palavras do Papa Bento XVI, Regina Caeli de 14 de Maio de 2006:
Se não faltaram preocupações e sofrimentos, se ainda há motivos de apreensão pelo futuro da humanidade, conforta-nos o que a “Senhora vestida de branco” prometeu aos pastorinhos: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará!”

CURSO DE LITURGIA

CURSO DE LITURGIA

PE. JOÃO BATISTA REUS, S. J.

PROFESSOR DO SEMINÁRIO CENTRAL DE SÃO LEOPOLDO, R. G. S.































I PARTE.


LITURGIA GERAL





CAPÍTULO I.


AS SANTAS PALAVRAS












CAPÍTULO II.


OS SANTOS SINAIS


Art. I. Atitudes







Art. II. Elementos materiais














CAPÍTULO III.


OS SANTOS LUGARES























CAPÍTULO IV.


O TEMPO SACRO











Art. I. O ciclo do Natal











Art. II. O. ciclo Pascal






77. O tempo da paixão.

78. O domingo de ramos.

79. O tríduo sacro. Prescrições e advertências.

80. As trevas.

81. O rito das trevas.

82. A quinta-feira santa.

83. A sexta-feira santa.

84. O sábado santo.

85. A festa da páscoa.

86. As rogações maiores e menores.

87. A ascensão de Jesus Cristo.

88. A festa de pentecostes.

89. As festas principais deste tempo.



Art. III. O ciclo de Cristo Rei



90. Existência deste ciclo e festas principais.

91. Outras festas deste ciclo. Devoções populares.




CAPÍTULO V.


O COMPUTO PASCAL



92. O áureo número.

93. Epacta e lua nova.

94. Os 30 números epactais.

95. Letra dominical.

96. Cômputo da páscoa e das outras festas móveis.




II PARTE.


LITURGIA ESPECIAL


I secção.


O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA


CAPÍTULO I.


A EXPLICAÇÃO DA MISSA



97. O santo sacrifício em geral.

98. A primeira missa no cenáculo.

99. O rito da missa no decurso dos séculos.

100. A preparação do ministro do sacrifício.



Art. I. A Missa dos catecúmenos



101. O acesso ao altar.

102: As leituras litúrgicas.



Art. II. A Missa dos fiéis



103. O ofertório.

104. O prefácio e o cânon.

105. O cânon.

106. As orações antes da consagração.

107. A consagração.

108. As orações do cânon depois da consagração.



Art. III. Missa dos fiéis: A comunhão



109. A preparação para a comunhão. Pater noster. Embolismo.

110. A fração do pão. A paz.

111. A recepção da Sta. comunhão. As preces anexas.

112. Depois da comunhão.



CAPÍTULO II.


AS RUBRICAS DA MISSA


Art. 1. Regras gerais



113. Classificação das missas.

114. As partes mutáveis da missa.

115. Número e divisão das orações.

116. As orações prescritas.

117. As orações imperadas.

118. As orações facultativas e a ordem das orações.

119. Epístola, seqüência, evangelho, credo.

120. Prefácio e Communicantes.

121. O último evangelho.



Art. II. As Missas votivas




122. As missas votivas em geral.

123. As missas votivas privadas.

124. A missa nupcial.

125. As missas votivas solenes.

126. A missa solene da oração das XL horas.

127. A missa votiva nos congressos eucarísticos.

128. A missa votiva de Jesus Sumo e Eterno Sacerdote.

129. A missa votiva solene do S. Coração de Jesus.

130. A missa votiva na bênção solene de oratório público.

131. A missa votiva no dia das missões e nos congressos missionários.

132. A missa votiva na solenidade da beatificação ou canonização.

133. Missa votiva coecutientis.

134. A solenidade universal externa conservada no domingo.

135. A missa votiva da solenidade particular exterior trasladada para o domingo.

136. A missa votiva em lugar da festa impedida.

137. A missa votiva de festa extraordinariamente concorrida.

138. As missas votivas de festas simplificadas.

139. As missas de festas mencionadas no ofício e no martirológio.

140. A missa da festa ou dá féria à livre escolha.

141. A missa na igreja alheia.



Art. III. As Missas dos defuntos



142. Noções e rubricas gerais.

143. Comemoração de todos os fiéis defuntos.

144. A missa exequial.

145. Missas privadas de réquie por ocasião de exéquias.

146. A missa do 3.°, 7.° e 30° dia e de aniversário.

147. A missa depois de receber o anúncio da morte.

148. A missa quotidiana de réquie.



CAPÍTULO III.


AS CERIMÔNIAS DA MISSA


Art. I. As cerimônias gerais



149. Posição do corpo.

150. Posições de partes do corpo.



Art. II. As cerimônias da Missa privada



151. O rito da missa comum rezada.

152. Cerimônias próprias da missa de réquie.

153. Cerimônias dos capelães da missa de bispo.

154. Missa rezada em presença de bispo diocesano.

155. Missa rezada diante do SS. Sacramento exposto.



Art. III. As cerimônias da Missa solene


I. Diácono e subdiácono



156. Observações.

157. As funções de diácono e subdiácono.



II. O celebrante



158. As cerimônias do celebrante na missa solene.

159. As cerimônias da missa nova com presbítero assistente.

160. A missa cantada diante do Santíssimo exposto.

161. A missa cantada com assistente.

162. A missa cantada com ajudantes.

163. Ofício do mestre de cerimônias na missa solene.

164. A missa solene de réquie.



II secção.


O OFÍCIO DIVINO



165. Origem e desenvolvimento do ofício divino.

166. Obrigação do ofício divino.

167. Recitação do oficio divino.

168. Método prático do ofício divino.

169. Divisão dos ofícios.

170. Ocorrência e concorrência.

171. As comemorações.

172. Os hinos.

173. 0 ofício de defuntos.

174. As festas particulares da dedicação, do título e do patrono.

175. As vésperas ordinárias cantadas.



III secção.



OS SACRAMENTOS E SACRAMENTAIS



176. O batismo.

177. A administração da s. comunhão fora da missa.

178. A comunhão dos enfermos.

179. A bênção do Santíssimo.

180. A bênção do Santíssimo sem assistente.

181. A exposição privada.

182. A penitência.

183. A extrema unção.

184. As exéquias.

185. Cerimonial das encomendações abreviadas.

186. As exéquias de crianças.

187. O sacramento das ordens.

188. As ordens menores.

189. As ordens maiores.

190. O sacramento do matrimônio.

191. Bênção da mulher depois do parto.

192. Noções gerais sobre as bênçãos (Sacramentais).

193. A visita pastoral.

194. A missa pontifical por ocasião da visita pastoral.

195. Missa solene com assistência do bispo revestido de roquete e mozeta.

O JEJUM E A ABSTINÊNCIA.

O JEJUM E A ABSTINÊNCIA.


Catecismo de São Pio X.


Com o intuito de fazer penitência por nossos pecados, de melhor nos dispor para a oração e de estar unidos aos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santa Igreja nos pede, nos tempos de penitência, que ofereçamos jejum e abstinência a Deus.



O Jejum:


Penitência é a mortificação do corpo.


A Igreja convida todos os fiéis à corresponderem ao preceito divino da penitência que, além das renúncias impostas pelo peso da vida cotidiana, pede alguns atos de mortificação também do corpo ... A Igreja quer indicar na Tríade Tradicional "ORAÇÃO, JEJUM, CARIDADE" os modos fundamentais para obedecer ao preceito divino da penitência. Ela defendeu a ora­ção e as obras de caridade, também, e com insistência, a abstinência de carne e o jejum.

Praticado desde toda a Antiguidade pelo povo eleito, como sinal de arrependimento, praticado por Nosso Senhor Jesus Cristo e por todos os santos, recomendado pela Santa Igreja como instrumento de santificação da alma, de controle do corpo e equilíbrio emocional, o jejum obrigatório foi sendo reduzido ao longo dos séculos.


Na prática do dia-a-dia há muitas formas de fazer penitência, devemos aproveitar por exemplo, silenciando algo que sabemos de alguém. Deixar de olhar televisão. Suportar os defeitos de alguém. Viver sem reclamar. Ter coragem de falar sempre bem do próximo. Cumprimentar sempre e, principalmente, aqueles que não nos são simpáticos. Dobrar os joelhos enquanto rezamos. Fazer o sinal da Cruz quando passamos diante de uma Igreja. Deixar de comer algum alimento que gostamos em determinados dias da semana. Agradecer com humildade todos os sofrimentos que ocorrem no dia a dia. Enfim, a penitência nos eleva, nos conduz à viver às 24 horas do dia na graça. Sejamos fortes fazendo penitência.



A oração e o jejum representam, em certo sentido, dois pilares da nossa fé.


O jejum constitui um dos princípios fundamentais da vida cristã; ele torna o devoto capaz de viver de acordo com a vontade de Deus; em todas as circunstâncias. Mediante a prática do jejum, a vontade de Deus poderá ser reconhecida mais facilmente, e raramente será perdida de vista. Como a respiração é função fundamental da vida física, assim o jejum e a oração representam as funções fundamentais da vida espiritual.


Nossa Senhora, em Medjugorje, nos pediu a volta à prática do jejum e nos disse que a melhor forma de jejuar é aquela a pão e água. Então constatamos que pão e água não representam a única maneira de jejuar, mas é a melhor maneira segundo a afirmação da Virgem.

O pão é o alimento fundamental do povo de Deus e, ao mesmo tempo simboliza a vida. A água é insubstituível em nossa vida; ela simboliza a purificação espiritual.


O jejum alimenta a oração e o impulso para Deus, para a paz e a reconciliação: eco fiel do Evangelho. Põe o corpo em sintonia com a alma e transforma-se em fonte de uma outra reconciliação, a interior.



Quando devemos jejuar por obrigação?



Na Quarta-feira de cinzas, abertura da Quaresma

Na Sexta-feira Santa, dia da morte de Nosso Senhor.


No entanto, todos os católicos devem ter a mortificação e o jejum presentes em suas vidas ao longo do ano, principalmente durante o Advento, a Quaresma e nas Quatro Têmporas, tendo sempre o espírito mortificado, fugindo do excesso de conforto e prazeres e, na medida do possível, oferecendo alguns sacrifícios a Deus, seja no comer, no beber, nas diversões (televisão principal­men­te), nos desconfortos que a vida oferece (calor, trabalho, etc.), sabendo suportar os outros, tendo paciência em tudo.

Assim sendo, mesmo não sendo obrigatório, continua sendo recomendado o jejum nas Quartas e Sextas da Quaresma e do Advento, guardando-se sempre o espírito pronto para as pequenas mortificações também nos demais dias.



Quem deve jejuar?



As pessoas maiores de 21 anos são obrigadas. Mas é evidente que os adolescentes podem muito bem oferecer esse sacrifício sem prejuízo para a saúde.

Quanto às crianças menores, mesmo alimentando-se bem, devem ser orientadas no sentido de oferecer pequenos sacrifícios, e acompanhar a frugalidade das refeições.

As pessoas doentes podem ser dispensadas (é sempre bom pedir a permissão ao padre)

As pessoas com mais de sessenta anos não têm obrigação de jejuar, mas podem fazê-lo se não houver perigo para a saúde.



Como jejuar nos dias de jejum obrigatório?



- Café da manhã mais simples que de hábito: uma xícara de café puro, um pedaço de pão, uma fruta.

- Almoço normal, mas sem carne (peixe pode), sem doces e sobremesas mais apetitosas, sem bebidas alcoólicas ou refrigerantes.

- No jantar, um copo de leite ou um prato de sopa, um pedaço de pão, uma fruta.


- O ideal é jejuar a pão e água. (desde o amanhecer até o anoitecer se tiver fome comer pão, se tiver sede tomar água. Não devemos comer pão e tomar água ao mesmo tempo, pois leva a dor de cabeça. Devemos comer pão calmamente em pequenas porções segurando na boca mastigando bem de modo que se dissolva com a saliva. Para beber água é bom dar um tempo após comer pão, também tomar a água calmamente como fez com o pão, segurar na boca um tempo para se misturar à saliva. Diz-se que devemos tomar o pão e mastigar a água). Pode tomar e comer quantas vezes for necessário durante o dia, em que sentir fome e sede.)


São inúmeras as passagens das Sagradas Escrituras referentes ao jejum. Eis algumas poucas referências:


- II Reis XII,16

- Tobias XII,8

- Daniel I, 6-16

- S. Mateus IV,1

- S. Mateus VI, 17

- S. Mateus XVII,20

- Atos XIV,22

- II Coríntios VI,5



A Abstinência de carne



Dentro do mesmo espírito de mortificação, pede-nos a Santa Madre Igreja a mortificação de não comer carne às sextas-feiras, o ano todo, de modo a honrar e adorar a santa morte de Nosso Senhor. (ficam excluídas as sextas-feiras das grandes festas, segundo a orientação do padre).

A abstinência ainda é praticada e, diferente do jejum, começa desde a adolescência, a partir dos quatorze anos.

Nas sextas-feiras do ano, e mais ainda durante os tempos de penitência, saibamos oferecer esse pequeno sacrifício a Nosso Senhor. Se vamos a um restaurante, peçamos peixe (muitos restaurantes ainda hoje servem pratos de peixe nas sextas-feiras).



O Jejum eucarístico



O jejum eucarístico é o fato de se comungar sem nenhum alimento comum no estômago, em honra à Santíssima Eucaristia.

O espírito do jejum eucarístico é de receber a Santa Comunhão como primeiro alimento do dia. Quando o Papa Pio XII modificou a disciplina do jejum eucarístico, devido à guerra, salientou que todos os que podiam deviam praticar esse jejum, chamado natural: só tomar alimento depois da comunhão. Quem assiste à Santa Missa cedo pode, muitas vezes, praticar esse jejum.

Apesar da lei eclesiástica em vigor determinar apenas uma hora antes da comunhão para o jejum eucarístico, todos os padres sérios pedem a seus fiéis que se esforcem para deixar três horas, visto que uma hora não chega a ser nem mesmo um sacrifício.

Caso as crianças ou pessoas debilitadas precisarem tomar algo antes da comunhão, com menos de três horas, procurem, ao menos, tomar apenas líquido, um copo de leite, por exemplo.

Porém, tendo se alimentado com menos de uma hora antes da hora da comunhão, não se deve, de modo algum, se aproximar da Sagrada Mesa.



O jejum, a abstinência e o confessionário.



Como o jejum e a abstinência fazem parte dos mandamentos da Igreja, devemos nos empenhar para praticá-los por amor à Deus. Caso haja alguma negligência ou fraqueza da nossa vontade que nos leve a quebrar o santo jejum ou a abstinência, devemos nos arrepender por não termos obedecido ao que nos ordena nossa Santa Madre Igreja, confessando-nos por termos assim ofendido a Deus.

Nos casos de esquecimento, devemos substituir essa obra por outra equivalente, como fazer o jejum em outro dia, rezar um terço, etc.

É sempre bom lembrar que a água pura não quebra o jejum.

As pessoas inclinadas à mortificação e ao jejum não devem nunca determinar um aumento de penitência sem o consentimento explícito do sacerdote responsável. O demônio usa muito o excesso de penitência corporal para enfraquecer a alma.


Tudo fazer na obediência.



A MORTIFICAÇÃO CRISTÃ


OBJETIVOS E EXERCÍCIOS


Escrito pelo Cardeal Desidério José Mercier

Livre-tradução do Artigo “La mortificación cristiana” do Cardeal Desidério José Mercier publicado em “Cuadernos de La Reja” número 2 do Seminário Internacional Nossa Senhora Corredentora da FSSPX.


Artigo 1 - Objeto da mortificação cristã


A mortificação cristã tem por fim neutralizar as influências malignas que o pecado original ainda exerce nas nossas almas, inclusive depois que o batismo as regenerou. Nossa regeneração em Cristo, ainda que anulou completamente o pecado em nós, nos deixa sem embargo muito longe da retidão e da paz originais. O Concílio de Trento reconhece que a concupiscência, ou seja, o triple apetite da carne, dos olhos e do orgulho, se deixa sentir em nós, inclusive depois do batismo, afim de excitar-nos às gloriosas lutas da vida cristã (Conc. Trid., Sess. 5, Decretum de pecc. orig.).


A Escritura logo chama esta triple concupiscência de “homem velho”, oposto ao “homem novo” que é Jesus que vive em nós e nós mesmos que vivemos em Jesus, como “carne” ou natureza caída, oposta ao “espírito” ou natureza regenerada pela graça sobrenatural. Este velho homem ou esta carne, ou seja, o homem inteiro com sua dupla vida moral e física, deve ser, não digo aniquilado, porque é coisa impossível enquanto dure a vida presente, mas sim mortificado, ou seja, reduzido praticamente à impotência, à inércia e à esterilidade de um morto; há que impedir-lhe que dê seu fruto, que é o pecado, e anular sua ação em toda a nossa vida moral.


A mortificação cristã deve, portanto, abraçar o homem inteiro, estender-se a todas as esferas de atividade nas quais a natureza é capaz de mover-se. Tal é o objeto da virtude de mortificação. Vamos indicar sua prática, recorrendo sucessivamente as manifestações múltiplas de atividade em que se traduz em nós:


I) A atividade orgânica ou a vida corporal;

II) A atividade sensível, que se exerce seja debaixo da forma do conhecimento sensível pelos sentidos exteriores ou pela imaginação, seja debaixo da forma de apetite sensível ou de paixão;

III) A atividade racional e livre, princípio de nossos pensamentos e de nossos juízos, e das determinações de nossa vontade;

IV) Consideraremos a manifestação exterior da vida de nossa alma, ou nossas ações exteriores;

V) E, finalmente, o intercâmbio de nossas relações com o próximo.



Artigo 2 - Exercício da mortificação cristã


A. Mortificação do corpo


Limite-se, tanto quanto possa, em matéria de alimentos, ao estritamente necessário. Medite estas palavras que Santo Agostinho dirigia a Deus: “Me ensinastes, oh meu Deus, a pegar os alimentos somente como remédios. Ah, Senhor!, aqui quem de entre nós não vai além do limite? Se há um só, declaro que este homem é grande e que deve grandemente glorificar vosso nome” (Confissões, liv. X, cap. 31);


Roga a Deus com freqüência, roga-lhe a cada dia que lhe impeça, com Sua graça, de transpassar os limites da necessidade, ou deixar-se levar pelo atrativo do prazer;


Não pegue nada entre as refeições, ao menos que haja alguma necessidade ou razões de conveniência;


Pratique a abstinência e o jejum, mas pratique-os somente debaixo da obediência e com discrição;


Não lhe está proibido saborear alguma satisfação corporal, mas faça-o com uma intenção pura e bendizendo a Deus;


Regule seu sono, evitando nisto toda relaxação ou molície, sobretudo pela manhã. Se pode, fixe-se uma hora para deitar-se e levantar-se, e obrigue-se a ela energicamente;


Em geral, não descanse senão na medida do necessário; entregue-se generosamente ao trabalho, e não meça esforços e penas. Tenha cuidado para não extenuar seu corpo, mas guarde-se também de agradá-lo: quando sentir que ele está disposto a rebelar-se, por pouco que seja, trate-o como a um escravo;


Se sente alguma ligeira indisposição, evite irritar-se com os demais por seu mal humor; deixe aos seus irmãos o cuidado de queixar-se; pelo que lhe cabe, seja paciente e mudo como o divino Cordeiro que levou verdadeiramente todas as nossas enfermidades;


Guarde-se de pedir uma dispensa ou revogação à sua ordem do dia pelo mínimo mal-estar. “Há que fugir como da peste de toda dispensa em matéria de regras”, escrevia São João Berchmans;


10º Receba docilmente, e suporte humilde, paciente e perseverantemente a mortificação penosa que se chama doença.



B. Mortificação dos sentidos, da imaginação e das paixões



Feche seus olhos, diante de tudo e sempre, a todo espetáculo perigoso, e inclusive tenha a valentia de fechá-los a todo espetáculo vão e inútil. Veja sem olhar; não se fixe em ninguém para discernir sua beleza ou feiúra;


Tenha seus ouvidos fechados às palavras bajuladoras, aos louvores, às seduções, aos maus conselhos, às maledicências, às zombarias que ferem, às indiscrições, à crítica malévola, às suspeitas comunicadas, a toda palavra que possa causar o menor esfriamento entre duas almas;


Se o sentido do olfato tem que sofrer algo por conseqüência de certas doenças ou debilidades do próximo, longe de queixar-se disso, suporte-o com uma santa alegria;


No que concerne à qualidade dos alimentos, seja muito respeitoso do conselho de Nosso Senhor: “Comei o que vos for apresentado”. “Comer o que é bom sem comprazer-se nisto, o que é mau sem mostrar aversão, e mostrar-se indiferente tanto em um como no outro, esta é a verdadeira mortificação”, dizia São Francisco de Sales;


Ofereça a Deus suas comidas, imponha-se na mesa uma pequena privação: por exemplo, negue-se um grão de sal, um copo de vinho, uma guloseima, etc.; os demais não o perceberão, mas Deus o terá em conta;


Se o que lhe apresentam excita vivamente seu atrativo, pense no fel e no vinagre que apresentaram a Nosso Senhor na cruz: isto não lhe impedirá de saborear o manjar, mas servirá de contrapeso ao prazer;


Há que evitar todo contato sensual, toda carícia em que se poria certa paixão, em que se buscaria ou onde se teria um gozo principalmente sensível;


Prescinda de ir aquecer-se ao menos que lhe seja necessário para evitar-lhe uma indisposição;


Suporte tudo o que aflige naturalmente a carne; especialmente o frio do inverno, o calor do verão, a dureza da cama e todas as incomodidades do gênero. Faça boa cara em todos os tempos, sorria a todas as temperaturas. Diga com o profeta: “Frio, calor, chuva, bendizei ao Senhor”. Felizes se podemos chegar a dizer com gosto esta frase tão familiar a São Francisco de Sales: “Nunca estou melhor do que quando não estou bem”;


10º Mortifique sua imaginação quando lhe seduz com a isca de um posto brilhante, quando se entristece com a perspectiva de um futuro sombrio, quando se irrita com a recordação de uma palavra ou de um ato que o ofendeu;


11º Se sente em você a necessidade de sonhar, mortifique-a sem piedade;


12º Mortifique-se com o maior cuidado sobre o ponto da impaciência, da irritação ou da ira;


13º Examine a fundo seus desejos, e submeta-os ao controle da razão e da fé: você não deseja mais uma vida longa que uma vida santa? prazer e bem-estar sem tristeza nem dores, vitórias sem combates, êxitos sem contrariedades, aplausos sem críticas, uma vida cômoda e tranqüila sem cruzes de nenhum tipo, ou seja, uma vida completamente oposta à de nosso divino Salvador?


14º Tenha cuidado de não contrair certos costumes que, sem ser positivamente maus, podem chegar a ser funestos, tais como o costume de leituras frívolas, dos jogos de azar, etc.;


15º Trate de conhecer seu defeito dominante, e quando o tiver conhecido, persiga-o até suas últimas pregas. Por isso, submeta-se com boa vontade ao que poderia ter de monótono e de entediado na prática do exame particular;


16º Não lhe está proibido ter bom coração e mostrá-lo, mas fique atento para o perigo de exceder o justo meio. Combata energicamente os afetos demasiado naturais, as amizades particulares, e todas as sensibilidades moles do coração.



C. Mortificação do espírito e da vontade



Mortifique seu espírito proibindo-lhe todas as imaginações vãs, todos os pensamentos inúteis ou alheios que fazem perder o tempo, dissipam a alma, e provocam o desgosto do trabalho e das coisas sérias;


Deve distanciar de seu espírito todo pensamento de tristeza e de inquietude. O pensamento do que poderá suceder no futuro não deve preocupá-lo. Quanto aos maus pensamentos que o molestam, deve fazer deles, distanciando-os, matéria para exercer a paciência. Se são involuntários, não serão para você senão uma ocasião de méritos;


Evite a teimosia em suas idéias, e a obstinação em seus sentimentos. Deixe prevalecer de boa vontade o juízo dos demais, salvo quando se trate de matérias em que você tem o dever de pronunciar-se e falar;


Mortifique o órgão natural de seu espírito, ou seja, a língua. Exerça-se de boa vontade no silêncio, seja porque sua Regra o prescreve, seja porque você o impõe espontaneamente;


Prefira escutar os demais do que falar você mesmo; mas, sem embargo, fale quando convenha, evitando tanto o excesso de falar demasiado, que impede os demais expressar seus pensamentos, como o de falar demasiado pouco, que denota indiferença que fere ao que dizem os demais;


Não interrompa nunca quem fala, e não corte com uma resposta precipitada quem lhe pergunta;


Tenha um tom de voz sempre moderado, nunca brusco nem cortante. Evite os “muito”, os “extremamente”, os “horrivelmente”, etc.: não seja exagerado em seu falar;


Ame a simplicidade e a retidão. A simulação, os rodeios, os equívocos calculados que certas pessoas piedosas se permitem sem escrúpulo, desacreditam muito a piedade;


Abstenha-se cuidadosamente de toda palavra grosseira, trivial ou inclusive ociosa, pois Nosso Senhor nos adverte que nos pedira conta delas no dia do Juízo;


10º Acima de tudo, mortifique sua vontade; é o ponto decisivo. Adapte-a constantemente ao que sabe ser do beneplácito divino e da ordem da Providência, sem ter nenhuma conta nem de seus gostos nem de suas aversões. Submeta-se inclusive a seus inferiores nas coisas que não interessam para a glória de Deus e os deveres de seu cargo;


11º Considere a menor desobediência às ordens e inclusive aos desejos de seus Superiores como dirigida a Deus;


12º Lembre-se de que praticará a maior de todas as mortificações quando ame ser humilhado e quando tenha a mais perfeita obediência àqueles a quem Deus quer se se submeta;


13º Ame ser esquecido e ser tido por nada: é o conselho de São João da Cruz, é o conselho da Imitação: não fale apenas de si mesmo nem para bem nem para mal, senão busque pelo silêncio fazer-se esquecer;


14º Diante de uma humilhação ou repreensão, se sente tentado a murmurar. Diga como Davi: “Melhor assim! Me é bom ser humilhado!”;


15º Não entretenha desejos frívolos: “Desejo poucas coisas, e o pouco que desejo, o desejo pouco”, dizia São Francisco;


16º Aceite com a mais perfeita resignação as mortificações chamadas de Providência, as cruzes e os trabalhos unidos ao estado em que a Providência o pôs. “Quanto menos há de nossa eleição, mais há de beneplácito divino”, dizia São Francisco de Sales. Queríamos escolher nossas cruzes, ter outra distinta da nossa, levar uma cruz pesada que tivesse ao menos algum brilho, antes que uma cruz ligeira que cansa por sua continuidade: Ilusão! Devemos levar nossa cruz, e não outra, e seu mérito não se encontra em sua qualidade, senão na perfeição com que a levamos;


17º Não se deixe turbar pelas tentações, pelos escrúpulos, pelas aridezes espirituais: “o que se faz durante a sequidão é mais meritório diante de Deus do que o que se faz durante a consolação”, dizia o santo bispo de Genebra;


18º Não devemos entristecer-nos demasiado por nossas misérias, senão mais bem humilhar-nos. Humilhar-se é uma coisa boa, que poucas pessoas compreendem; inquietar-se e impacientar-se é uma coisa que todo o mundo conhece e que é má, porque nesta espécie de inquietude e de despeito o amor próprio tem sempre a maior parte;


19º Desconfiemos igualmente da timidez e do desânimo, que fazem perder as energias, e da presunção, que não é mais do que o orgulho em ação. Trabalhemos como se tudo dependesse de nossos esforços, mas permaneçamos humildes como se nosso trabalho fosse inútil.



D. Mortificações que há que praticar em nossas ações exteriores



Deve ser o mais exato possível em observar todos os pontos de sua regra de vida, obedecer sem demora, lembrando-se de São João Berchmans, que dizia: “Minha maior penitência é seguir a vida comum”; “Fazer o maior caso das menores coisas, tal é o meu lema”; “Antes morrer que violar uma só de minhas regras!”;


No exercício de seus deveres de estado, trate de estar muito contente com tudo o que parece feito de propósito para desagradá-lo e molestá-lo, lembrando-se também aqui da frase de São Francisco de Sales: “Nunca estou melhor quando não estou bem”;


Não conceda jamais um momento à preguiça; da manhã à noite, esteja ocupado sem descanso;


Se sua vida se passa dedicada, ao menos em partes, ao estudo, aplique os seguintes conselhos de Santo Tomás de Aquino aos seus alunos: “Não se contentem com receber superficialmente o que lêem ou escutam, senão tratem de penetrar e aprofundar seu sentido. - Não fiquem nunca com dúvidas sobre o que podem saber com certeza. - Trabalhem com uma santa avidez em enriquecer seu espírito; classifiquem com ordem em sua memória todos os conhecimentos que possa adquirir. - Sem embargo, não tratem de penetrar os mistérios que estão por acima de sua inteligência”;


Ocupe-se unicamente da ação presente, sem voltar ao que precedeu nem adiantar-se pelo pensamento ao que vem a seguir; diga com São Francisco: “Enquanto faço isto, não estou obrigado a fazer outra coisa”; “Apressemo-nos com bondade: será tão logo tanto quanto esteja bom”;


Seja modesto em sua compostura. Nenhum porte era tão perfeito como o de São Francisco; tinha sempre a cabeça direita, evitando igualmente a ligeireza que a gira em todos os sentidos, a negligência que a inclina adiante e o humor orgulhoso e altivo que a levanta para trás. Seu rosto estava sempre tranqüilo, livre de toda preocupação, sempre alegre, sereno e aberto, sem ter sem embargo uma jovialidade indiscreta, sem risadas ruidosas, imoderadas ou demasiado freqüentes;


Quando se encontrava só mantinha-se em tão boa compostura como diante de uma grande assembléia. Não cruzava as pernas, não apoiava a cabeça no encosto. Quando rezava, ficava imóvel como uma coluna. Quando a natureza lhe sugeria seus gostos, não a escutava em absoluto;


Considere a limpeza e a ordem como uma virtude, e a sujeira e a desordem como um vício: evite os vestidos sujos, manchados ou rasgados. Por outra parte, considere como um vício ainda maior o luxo e o mundanismo. Faça de modo de ao ver sua vestimenta e adereços, ninguém diga: está desarrumado; nem: está elegante; senão que todo o mundo possa dizer: está decente.



E. Mortificações para praticar em nossas relações com o próximo



Suporte os defeitos do próximo: faltas de educação, de espírito, de caráter. Suporte tudo o que nele lhe desagrada: seu modo de andar, sua atitude, seu tom de voz, seu sotaque, e todo o resto;


Suporte tudo a todos e suporte até o fim e cristãmente. Não se deixe levar jamais por essas impaciências tão orgulhosas que fazem dizer: Que posso fazer de tal o qual? Em que me concerne o que diz? Para que preciso o afeto, a benevolência ou a cortesia de uma criatura qualquer, e desta em particular? Nada é menos segundo Deus que estes desprendimentos altaneiros e estas indiferenças depreciativas; melhor seria, certamente, uma impaciência;


Encontra-se tentado a irar-se? Pelo amor a Jesus, seja manso. De vingar-se? Devolva bem por mal. Diz-se que o segredo de chegar ao coração de Santa Teresa, era fazer-lhe algum mal. De mostrar a alguém uma cara má? Sorria com bondade. De evitar seu encontro? Busque-o por virtude. De falar mal dele? Fale bem. De falar-lhe com dureza? Fale doce e cordialmente;


Ame fazer o elogio de seus irmãos, sobretudo daqueles a quem sua inveja se dirige mais naturalmente;


Não diga acuidades em detrimento da caridade;


Se alguém se permite em sua presença palavras pouco convenientes, ou mantém conversações próprias para danificar a reputação do próximo, poderá às vezes repreender com doçura a quem fala, mas mais freqüentemente será melhor distanciar habilmente a conversação ou manifestar por um gesto de descontentamento ou de desatenção querida que o que se está dizendo o desagrada;


Quando lhe custe fazer um favor, ofereça-se a fazê-lo: terá duplo mérito;


Tenha horror de apresentar-se diante de si mesmo ou dos demais como uma vítima. Longe de exagerar suas cargas, esforce-se em encontrá-las leves. O são em realidade muito mais freqüentemente do que parece, e o seriam sempre se tivesse um pouco mais de virtude.



Conclusão



Em geral, saiba negar à natureza o que pede sem necessidade.

Saiba fazer-lhe dar o que ela nega sem razão. Seus progressos na virtude, disse o autor da Imitação de Cristo, serão proporcionais à violência que saiba fazer-se.


Dizia o santo Bispo de Genebra: “Há que morrer afim de que Deus viva em nós: porque é impossível chegar à união da alma com Deus por outro caminho que pela mortificação. Estas palavras: Há que morrer! são duras, mas serão seguidas de uma grande doçura, porque não se morre a si mesmo senão para unir-se a Deus por esta morte”.


Quisera Deus que pudéssemos aplicar-nos com pleno direito as seguintes palavras de São Paulo: “Em todas as coisas sofremos a tribulação... Trazemos sempre em nosso corpo a morte de Jesus, afim de que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos” (2 Cor. 4, 10).




O SILÊNCIO.


Os doze graus do silêncio, Irmã Amada de Jesus


Livre-tradução do Artigo “Los doce grados del silencio” de “Sor Amada de Jesús” publicado em “Cuadernos de La Reja” número 2 do Seminário Internacional Nossa Senhora Corredentora da FSSPX.


Enquanto o mundo grita desesperado, e os rumores atordoam as multidões, cabe espaço em nós para o silêncio, pois somente através dele, nos calando, é que podemos escutar a voz de Deus. O Espírito Santo não atua na balbúrida, na confusão, na música profana e atordoante, na gritaria e sim no silêncio dos corações.


A vida interior poderia consistir só nesta palavra: Silêncio! O silêncio prepara os santos; ele os começa, os continua e os acaba. Deus, que é eterno, não diz mais que uma só palavra, que é o Verbo. Do mesmo modo, seria desejável que todas as nossas palavras digam Jesus direta ou indiretamente. Esta palavra: silêncio, quão formosa é!


1º Falar pouco às criaturas e muito a Deus


Este é o primeiro passo, mas indispensável, nas vias solitárias do silêncio. Nesta escola é onde se ensinam os elementos que dispõe à união divina. Aqui a alma estuda e aprofunda esta virtude, no espírito do Evangelho, no espírito da Regra que abraçou, respeitando os lugares consagrados, as pessoas, e sobretudo esta língua na qual tão freqüentemente descansa o Verbo ou a Palavra do Pai, o Verbo feito carne. Silêncio ao mundo, silêncio às notícias, silêncio com as almas mais justas: a voz de um Anjo turbou Maria...


2º Silêncio no trabalho, nos movimentos


Silêncio no porte; silêncio dos olhos, dos ouvidos, da voz; silêncio de todo o ser exterior, que prepara a alma para passar a Deus. A alma merece tanto quanto pode, por estes primeiros esforços em escutar a voz do Senhor. Que bem recompensado é este primeiro passo! Deus a chama ao deserto, e por isso, neste segundo estado, a alma aparta tudo o que poderia distraí-la; se distancia do ruído, e foge sozinha Àquele que somente é. Ali ela saboreará as primícias da união divina e o zelo de seu Deus. É o silêncio do recolhimento, ou o recolhimento do silêncio.


3º Silêncio da imaginação


Esta faculdade é a primeira em chamar à porta fechada do jardim do Esposo; com ela vêm as emoções alheias, as vagas impressões, as tristezas. Mas neste lugar retirado, a alma dará ao Bem Amado provas de seu amor. Apresentará a esta potência, que não pode ser destruída, as belezas do céu, os encantos de seu Senhor, as cenas do Calvário, as perfeições de seu Deus. Então, também ela permanecerá no silêncio, e será a servente silenciosa do Amor divino.


4º Silêncio da memória


Silêncio ao passado... esquecimento. Há que saturar esta faculdade com a recordação das misericórdias de Deus... É o agradecimento no silêncio, é o silêncio da ação de graças.


5º Silêncio às criaturas


Oh, miséria de nossa condição presente! Com freqüência a alma, atenta a si mesma, se surpreende conversando interiormente com as criaturas, respondendo em seu nome. Oh, humilhação que fez gemer os santos! Nesse momento esta alma deve retirar-se docemente às mais íntimas profundezas deste lugar escondido, onde descansa a Majestade inacessível do Santo dos santos, e onde Jesus, seu consolador e seu Deus, se descobrirá a ela, lhe revelará seus segredos, e a fará provar a bem-aventurança futura. Então lhe dará um amargo desgosto para tudo o que não é Ele, e tudo o que é da terra deixará pouco a pouco de distrair-la.


6º Silêncio do coração


Se a língua está muda, se os sentidos se encontram na calma, se a imaginação, a memória e as criaturas se calam e fazem silêncio, se não ao redor, ao menos no íntimo desta alma de esposa, o coração fará pouco ruído. Silêncio dos afetos, das antipatias, silêncio dos desejos no que tem de demasiado ardente, silêncio do zelo no que tem de indiscreto; silêncio do fervor no que tem de exagerado; silêncio até nos suspiros... Silêncio do amor no que tem de exaltado, não dessa exaltação da qual Deus é autor, senão daquela na qual se mistura a natureza. O silêncio do amor, é o amor no silêncio...


É o silêncio diante de Deus, suma beleza, bondade, perfeição... Silêncio que não tem nada de chateado, de forçado; este silêncio não danifica a ternura, o vigor deste amor, de modo semelhante a como o reconhecimento das faltas não danifica tampouco o silêncio da humildade, nem o bater das asas dos anjos de que fala o profeta o silêncio de sua obediência, nem o fiat o silêncio de Getsemani, nem o Sanctus eterno o silêncio dos serafins...


Um coração no silêncio é um coração de virgem, é uma melodia para o coração de Deus. A lâmpada se consome sem ruído diante do Sacrário, e o incenso sobe em silêncio até o trono do Salvador: assim é o silêncio do amor. Nos graus precedentes, o silêncio era ainda a queixa da terra; neste a alma, por sua pureza, começa a aprender a primeira nota deste cântico sagrado que é o cântico dos céus.


7º Silêncio da natureza, do amor próprio


Silêncio à vista da própria corrupção, da própria incapacidade. Silêncio da alma que se compraz na sua baixeza. Silêncio aos louvores, à estima. Silêncio diante dos desprezos, das preferências, das murmurações; é o silêncio da doçura e da humildade. Silêncio da natureza diante das alegrias ou dos prazeres. A flor se abre no silêncio e seu perfume louva em silêncio ao criador: a alma interior deve fazer o mesmo. Silêncio da natureza na pena ou na contradição. Silêncio nos jejuns, nas vigílias, nas fadigas, no frio e no calor. Silêncio na saúde, na enfermidade, na privação de todas as coisas: é o silêncio eloqüente da verdadeira pobreza e da penitência; é o silêncio tão amável da morte a todo o criado e humano. É o silêncio do eu humano transformando-se no querer divino. Os estremecimentos da natureza não poderiam turbar este silêncio, porque está acima da natureza.

8º Silêncio do espírito


Fazer calar os pensamentos inúteis, os pensamentos agradáveis e naturais; só estes danificam o silêncio do espírito, e não o pensamento em si mesmo, que não pode deixar de existir. Nosso espírito quer a verdade, e nós lhe damos a mentira! Agora bem, a verdade essencial é Deus! Deus é o bastante à sua própria inteligência divina, e não basta à pobre inteligência humana!


No que concerne a uma contemplação de Deus perene e imediata, não é possível na debilidade da carne, a não ser que Deus conceda um puro dom de sua bondade; mas o silêncio nos exercícios próprios do espírito consiste, em relação à fé, em contentar-se com sua luz escura. Silêncio aos raciocínios sutis que debilitam a vontade e dissecam o amor. Silêncio na intenção: pureza, simplicidade; silêncio às buscas pessoais; na meditação, silêncio à curiosidade; na oração, silêncio às próprias operações, que não fazem mais que entravar a obra de Deus. Silêncio ao orgulho que se busca em tudo, sempre e em todas as partes; que quer o belo, o bem, o sublime; é o silêncio da santa simplicidade, do desprendimento total, da retidão.


Um espírito que combate contra tais inimigos é semelhante a esses anjos que vêem sem cessar a Face de Deus. Esta é a inteligência, sempre no silêncio, que Deus eleva a si.


9º Silêncio do juízo


Silêncio quanto às pessoas, silêncio quanto às coisas. Não julgar, não deixar ver a própria opinião. Não ter opinião às vezes, ou seja, ceder com simplicidade, sem nada se opor a ele por prudência ou por caridade. É o silêncio da bem-aventurada e santa infância, é o silêncio dos perfeitos, o silêncio dos anjos e dos arcanjos, quando seguem as ordens de Deus. É o silêncio do Verbo encarnado!


10º Silêncio da vontade


O silêncio aos mandamentos, o silêncio às santas leis da regra, não é, por dizer assim, mais que o silêncio exterior da própria vontade. O Senhor tem algo que ensinar-nos de mais profundo e de mais difícil: o silêncio do escravo sob os golpes de seu amo. Mas, feliz escravo, pois o Amo é Deus! Este silêncio é o da vítima sobre o altar, é o silêncio do cordeiro que é despojado de sua pele, é o silêncio nas trevas, silêncio que impede pedir a luz, ao menos a que alegra.


É o silêncio nas angústias do coração, nas dores da alma; o silêncio de uma alma que se viu favorecida por seu Deus, e que, sentindo-se rechaçada por Ele, não pronuncia nem sequer estas palavras: Por que? Até quando? É o silêncio no abandono, o silêncio sob a severidade do olhar de Deus, sob o peso de sua mão divina; o silêncio sem outra queixa que a do amor. É o silêncio da crucifixão, é mais que o silêncio dos mártires, é o silêncio da agonia de Jesus Cristo. Se este silêncio é seu divino silêncio e nada é comparável à sua voz, nada resiste à sua oração, nada é mais digno de Deus que esta classe de louvor na dor, que este fiat no sofrimento, que este silêncio no trabalho da morte.


Enquanto esta vontade humilde e livre, verdadeiro holocausto de amor, se despedaça e se destrói para a glória do nome de Deus, Ele a transforma em sua vontade divina. Então o que falta para sua perfeição? O que requer ainda para a união? O que falta para que Cristo seja acabado nesta alma? Duas coisas: a primeira é o último suspiro do ser humano; a segunda é uma doce atenção ao Bem Amado cujo beijo divino é a inefável recompensa.


11º Silêncio consigo mesmo


Não falar-se interiormente, não escutar-se, não queixar-se nem consolar-se. Em uma palavra, calar-se consigo mesmo, esquecer-se de si mesmo, deixar-se só, completamente só com Deus; fugir, separar-se de si mesmo. Este é o silêncio mais difícil, e sem embargo é essencial para unir-se a Deus tão perfeitamente como possa fazê-lo uma pobre criatura que, com a graça, chega com freqüência até aqui, mas se detém neste grau, porque não o compreende e o pratica menos ainda. É o silêncio do nada. É mais heróico que o silêncio da morte.


12º Silêncio com Deus


No começo Deus dizia à alma: “Fala pouco às criaturas e muito comigo”. Aqui lhe diz: “Não me fales mais”. O silêncio com Deus é aderir-se a Deus, apresentar-se e expor-se diante de Deus, oferecer-se a Ele, aniquilar-se diante dEle, adorá-lo, amá-lo, escutá-lo, ouvi-lo, descansar nEle. É o silêncio da eternidade, é a união da alma com Deus.