sábado, 10 de dezembro de 2011

Exorcista da diocese de Roma, Pe. Gabriele Amorth: A Oração de Libertação no Reavivamento


27.02.2009 - Segue um texto do mais conhecido exorcista da atualidade, dando todos os direcionamentos sobre esta atividade. Afirmo que estão surgindo casos como nunca, tanto de doenças quanto de distúrbios pessoais, familiares e comuntários, que precisam ser analisados por este ângulo. Os espíritos do mal não perdem uma só oportunidade de manobrar pessoas, animais, plantas e a própria natureza, desde que isso provoque traumas e confusões. Deus permite a eles esta atividade não como demonstração de força deles, mas como motivo de luta aos homens, para que os vençam. A arma única é a ORAÇÃO, com Deus.
Lembrem-se, porém: o exorcismo maior compete apenas aos sacerdotes, que forem nomeados pelos bispos. Como infelizmente muitas dioceses não tem estes padres especializados, hoje e sempre o Céu tem suscitado pessoas com este dom, este carisma, de expulsar demônios. Que ninguém se meta a enfrentar diretamente estes espíritos, embora sempre DEVEMOS e PODEMOS rezar as orações de Cura e libertação. Isso diariamente e até mais vezes ao dia.
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PADRE GABRIELE AMORTH

Famoso Exorcista da diocese de Roma.

A ORAÇÃO DE LIBERTAÇÃO NO REAVIVAMENTO

A Bíblia diz-nos que a vida do homem sobre a terra é uma luta (Jó 7,1). Contra quem? Paulo é claro: contra os demônios (Ef 6,12). Quanto irá durar esta luta? Também o Vaticano II é claro a este respeito ao resumir os ensinamentos de Jesus: “A história humana na sua globalidade está marcada por uma luta tremenda contra as potências das trevas; luta que começou logo na origem do mundo e que irá durar, como diz o senhor, até ao último dia“ (Gandium et Spes, nº 37).

O cristão moderno, sobretudo, perdeu o sentido desta luta.
Deste modo, acabou por perder o sentido do pecado e atingiu uma imortalidade de vida total, que os cardeais definiram como sendo uma noite ética. Atingiu uma ignorância e uma perda de fé tais que é necessário uma nova evangelização. Já não sabe por onde começar.

Vem em nosso auxílio Paulo VI, no famoso discurso sobre o demônio, de 15 de novembro de 1972. À pergunta: “Que defesa contrapor à ação do demônio?” responde: “Tudo o que nos defende do pecado protege-nos do inimigo invisível. A graça é a defesa decisiva”. E o discurso prossegue sublinhando a importância dos meios comuns da graça.

Mas nós sabemos que não existe apenas a ação ordinária, a tentação, que pode ser vencida mediante a vigilância e a oração. Sabemos que também existe uma ação extraordinária dos espíritos maléficos, que assalta homens, famílias, sociedades inteiras, causando males de vários tipos e mesmo a possessão. Contra esta atividade não são suficientes os meios comuns da graça, que, no entanto, continuam a ser fundamentais. É por isso que o Senhor deu o poder de expulsar os demônios: primeiro aos Apóstolos, depois aos discípulos e, por fim, a todos aqueles que acreditassem nele.
E se recebi do meu bispo inesperadamente a faculdade de exorcizar, não pude fechar os olhos a todo um mundo novo que descobri e às carências pastorais que existiam e que também a mim não me deixavam vê-lo.

Uma destas carências levamos em consideração: o quase desaparecimento do exorcismo. Admiro os nossos bispos que começam a fazer algo, embora se encontrem também eles perante um problema que não foram preparados para enfrentar. Pelos motivos a que já nos referimos, os bispos encontram-se na condição de nunca terem feito nenhum exorcismo, de nunca terem visto nenhum sendo feito e, sob a influência de algumas correntes muito em voga de acreditarem pouco nele. Há exceções, mas são sempre exceções.

E, no entanto, a nomeação dos exorcistas é exclusivamente responsabilidade dos bispos. Diria que têm o monopólio absoluto numa matéria que não conhecem. Apesar desta situação, e é por isso que os admiro, já foram nomeados, na Itália, nos últimos anos, muitos exorcistas. Até mesmo em dioceses que nunca tinha ouvido falar de exorcistas e por parte dos bispos que, até há bem pouco tempo , se tinham declarado abertamente contra tais nomeações. Espero também que, a seguir às nomeações, se desenvolva progressivamente a possibilidade de uma adequada formação neste campo. Entretanto, os próprios exorcistas procuram ajudar-se entre si mediante encontros internacionais, nacionais e regionais.

Mas os exorcistas não chegam para cobrir as necessidades deste setor; e quando a Igreja latina instituiu o exorcismo não tencionava retirar do resto dos fiéis aqueles poderes que o Senhor deu aos crentes que atuam com força do seu nome. Eis por que identifico uma segunda lacuna que é necessário preencher: é também a totalidade da comunidade dos fiéis que deve sentir-se empenhada nesta luta.

O próprio Jesus iniciou a luta quando ensinou o Pai-Nosso, em que a última invocação é realmente uma oração de libertação: “Livrai-nos do Mal”. Seria mais exato traduzir: “Livrai-nos do Mal.” O Catecismo, corretamente, escreve a palavra Mal com maiúscula inicial e explica: “Neste pedido, o Mal não é uma abstração; indica , pelo contrário, uma pessoa: Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus”. ( nº2.851).
As orações de libertação têm grandíssima importância. Antes de mais nada, são suficientes para libertarem dos malefícios menores, em que não e necessário recorrer ao exorcismo. Muitas vezes são preciosas para descobrir a existência de um malefício, ou seja, é um precioso auxílio em um primeiro diagnóstico.

Mesmo quando uma pessoa precisa ser exorcizada, as orações de libertação ajudam aos exorcismos, aumentando-lhes a eficácia e estabilizando os resultados. Não podemos deixar de mencionar que os católicos tinham abandonado esta forma de oração e recuperaram-na depois de a verem amplamente praticada com eficácia pelos pentecostais. É sinal de inteligência saber aprender com os outros quanto de bom nos podem ensinar ou mesmo só recordar.
Acrescento que a oração de libertação é uma oração privada (o exorcismo é uma oração pública que envolve a autoridade da Igreja); pode ser feita por todos, indivíduos ou grupos, e sobre todos; não requer nenhuma autorização; enquanto o exorcismo, pelo contrário, mas espero que as disposições mudem, só pode ser administrado pelos bispos ou pelos sacerdotes autorizados pelos bispos.

Mas a oração de libertação também deve ser feita mesmo que não haja esquemas ou fórmulas fixas, por isso, é suficiente observar as normas gerais das orações (é uma oração de intercessão; o Catecismo da Igreja Católica dedica uma parte ampla e verdadeiramente preciosa á oração); é necessário evitar a escassez, alguns dos quais foram postos em evidência pela Congregação para a Doutrina da Fé, na carta enviada aos bispos no dia 29 de outubro de 1985.

Não há dúvida de que a oração de libertação foi, sobretudo divulgada por um dos mais importantes movimentos eclesiais do pós-Concílio, A Renovação Carismática (fala-se de cerca de 85 milhões de aderentes entre os católicos) e muitos de nós exorcistas nos apoiamos em grupos de oração, vista a sua preciosidade e o auxílio que nos facultavam. E não hesito em dizer que é o único grande movimento eclesial sensível a estes problemas e disposto a acolher e a ajudar as pessoas afetadas por este tipo de males.
Por isso, ao escrever este tema, confiei na competência de um dos maiores especialistas e mais conhecido exorcista da Sicília, o padre Matteo La Grua. Há já muito tempo que é membro da Comissão Nacional de Serviço. São preciosas as suas muitas instruções sobre como conduzir as orações de libertação, de cura e, de um modo geral, de intercessão por quem sofre.

A ele devo um especial agradecimento também pela publicação de dois livros riquíssimos de conteúdo e em que a sua experiência é mais do que evidente: La preghiera di liberazione [A oração de libertação] e La preghiera di guarigione [A oração de cura] (Ed. Herbita, Palermo). Duas obras que muito me ajudaram na elaboração dos meus livros anteriores.
Logicamente que o padre La Grua não tem a pretensão de tratar este tema na sua totalidade e variedade. Limita-se a expor como se desenrola a oração de libertação nos grupos de oração. O quanto será exposto é conteúdo de uma conferência que ele proferiu no Congresso Nacional de Exorcistas, que se realizou em Toma, em setembro de 1993. A palavra ao padre La Grua:



Como começamos

Considero que seja mérito dos movimentos carismáticos que apareceram depois do Concilio – e entre eles, do Renovamento no Espírito – o fato de terem chamado atenção para a presença ativa, no mundo de hoje, do diabo, de quem bem poucas pessoas levam a sério as suas manifestações; há uma teologia racionalista e reducionista que relega o demônio e o mundo dos espíritos para a condição de simples etiqueta, que cobre tudo aquilo que ameaça o homem na sua subjetividade. Isto era o que já escrevia o Cardeal Suenens já em 1982, na introdução do livro Rinnovamento e potenza delle tenebre (Renovamento e poder das trevas) (Ed. Paoline).

Depois a vários anos de distância, a situação não melhorou em nada, aliás, piorou. O aumento progressivo do ocultismo e do esoterismo, o proliferar das seitas satânicas, o multiplicar-se de magos e bruxos reforçam pelo mundo o grande inimigo. Esta é uma história que já dura muitas décadas. A tomada de consciência perigosa desde o início, à prática da oração de libertação, que os pentecostais já praticavam, e ainda praticam, em larga medida.
Por outro lado, era dado por adquirido que, com o despertar dos outros carismas (a profecia, as línguas, as curas), também despertaria o carisma da libertação: “Os sinais que acompanharão aqueles que me acreditaram são novas línguas (...); quando colocarem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados” (Mc 16, 17-18).

Mas foi o próprio Espírito, no exercício do carisma das curas e na prática da oração de efusão, a conduzir-nos à oração de libertação. Isto logo desde o início. Ao rezar sobre os doentes pedindo pela sua cura, espiritual e física, apercebemo-nos de que em muitos casos havia um obstáculo que impedia cura; era como se a doença estivesse prisioneira. Pensou-se, então, que seria bom começar com uma oração de libertação, que surtiu efeito: os doentes, depois daquela oração, ficavam mais abertos, mais dispostos a acolherem a graça da cura.

Lembro-me bem desta primeira experiência; poderia citar muitíssimos episódios. O primeiro, a cura instantânea de uma mulher que tinha um câncer num pulmão, um tumor do tamanho de um limão, que lhe tinha sido diagnosticado quer em Palermo quer em Paris. A mulher submeteu-se à oração do grupo. Apercebemo-nos de que havia qualquer coisa que impedia a eficácia da oração. Fiz então uma brevíssima oração de libertação e depois, assim que a mulher ficou libertada do impedimento, dei ao tumor a ordem de desaparecer. E desapareceu neste mesmo instante.

O mesmo se passou no episódio de libertação de um sacerdote que veio a um retiro em Perugia: tinha o espírito de sodomia. Era um homem enorme que sofria de cancro no reto. Foram necessárias duas horas e meia de exorcismo: a luta foi tremenda, luta corpo a corpo com o demônio, que não queria ir - embora. Aquele homem, assim que acabou o exorcismo, tinha-se tornado numa larva; tinha sido libertado de não sei quantos espíritos, mas o fato é que fisicamente estava muito sem forças.

Num primeiro momento, não conseguia agüentar-se de pé. Conformei-o dizendo-lhe que o diabo já tinha ido embora e que faríamos depois a oração da cura, uma vez que já estava na hora da Missa. Mas durante a Missa foi-me dirigida uma mensagem que dizia: pronuncia imediatamente a ordem de expulsão. Então, pus-me a rezar e depois dei a ordem de expulsão: o homem ficou logo curado do seu cancro. Porquê? Porque o impedimento era provocado pela presença do Maligno.

Também adquiri esta experiência: os tumores, que atualmente tanto afligem a humanidade, estão em grande parte ligados ao Maligno. É claro que, influencia também a poluição atmosférica; mas o demônio vagueia pelo ar, é o príncipe das regiões celestes, manipula aquilo que encontra e inocula germens patogênicos. E mais, é ele quem dá fim à vida familiar, à vida social; cria rancores, ódios, remorsos, depois de ter induzido ao pecado. Como afirmam também alguns médicos americanos, tudo isto favorece o aparecimento de tumores.
Por isso, quando temos que lidar com pessoas com tumores, a primeira coisa que faço não é rezar pela sua cura, mas pela sua libertação. Em muitos casos, existe um nexo entre os dois males: entre a presença e a atividade do Maligno e a da doença.
Assim, o nosso ponto de partida foi-nos sugerido por este fato: durante o exercício da oração de cura notávamos que algumas doenças resistiam, para depois cederem após a oração de libertação.

Houve, depois, um segundo motivo de iniciar com as orações de libertação. Foi a prática da oração para o batismo no Espírito, que nós chamamos efusão do Espírito Santo, pra o distinguir do Sacramento do Batismo, embora esta prática esteja intimamente ligada ao Batismo.
Parece que este rito já se praticava na Igreja desde o século VIII, mas depois perdeu-se. Um recente estudo de teólogos demonstrou que até ao século VIII se praticava a oração de efusão, considerada complementar aos três sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Crisma, Eucaristia). Atualmente, procura-se recuperar esta prática de modo a reforçar o cristão na luta e a inseri-lo no corpo eclesial, para edificação do Corpo Místico de Cristo.

Durante a efusão, nós reparávamos que muitas pessoas não ficavam libertadas; mediante introspecção interior identificávamos que as potências do espírito estavam como que entupidas, havia um bloqueio, uma incapacidade de recepção das moções do Espírito, das iluminações do Espírito. E sem estas iluminações do Espírito o cristão não pode viver plenamente a fé, a esperança e a capacidade; ou seja, a vida de filho de Deus.
Por outro lado, notamos que muitas pessoas tinham freqüentado magos e bruxas; tinham também participado em sessões de espiritismo ou de artes de adivinhação. Em suma, tinham contraído ligações. Por isso, notávamos que havia impedimentos; havia ainda uma atividade do Maligno.

Porque a atividade do Maligno não é tanto aquela que notamos nos possuídos, quanto a mais sutil que o inimigo desenvolve dentro de nós, nas potências do espírito que presidem à nossa vida espiritual.
Então, antes da efusão, começamos a fazer uma oração de libertação. E foram estas as situações que marcaram o nosso começo: a necessidade de iniciar com a oração de libertação antes da oração de cura e da prática da efusão.

Um desenvolvimento progressivo

Como o avançar do tempo, cada vez mais pessoas vinham até nós, pessoas que não estavam muito próximas de Deus e que precisavam de orações de libertação; nos maiores destes grupos, como o que eu oriento, fixamos ministérios estabilizados de libertação. Atualmente, a oração de libertação encontra-se muito difundida; muitos grupos da Renovação constituíram ministérios de libertação das amarras do Maligno naqueles que costumamos considerar casos menores, quer no acompanhamento do sacerdote exorcista no exercício do seu ministério. Temos também serviços coletivos de libertação.

Que estilo de oração praticamos na libertação?

Antes de mais nada, um estilo de oração comunitária; e isto por dois motivos: um teológico e um pastoral. Não preferimos a oração individual, como se costuma fazer no exorcismo. No exorcismo é o exorcista quem atua; na oração de libertação atua a comunidade. Damos grande valor à realidade de Igreja, vivente em cada comunidade de fiéis que se reúnem em redor de Cristo e invocam o Espírito. Na comunidade dos crentes é Cristo quem atua e continua a libertar os irmãos da presença do inimigo.

Por outro lado, consideramos com segurança que a libertação é função do Corpo Místico de Cristo, que deve eliminar do seu seio as infiltrações do Maligno, lá onde elas se manifestarem; porque qualquer manifestação do Maligno pesa sobre o corpo todo e danifica-o. Eis então a idéia de que a Igreja, a comunidade, e em toda a Igreja.

Há também um motivo pastoral, ou, melhor, teológico: a oração comunitária permite a interação dos vários carismas, que, deste modo, melhor iluminam e tornam mais eficaz a oração. Por outro lado, preserva-nos do perigo de sermos confundidos com magos ou curandeiros, que atuam sempre isoladamente. A interação dos carismas é um motivo pastoral: numa comunidade existem diferentes carismas; como a finalidade é livra-se de um mal, um grupo que tem bons carismas obtém mais facilmente a libertação.

Qual é a composição ideal de um grupo?

Tratando-se de um grupo carismático, nós procuramos antes de mais quem tem o carisma da cura. Nos primeiros séculos da Igreja, antes que se instituísse o sacramental do exorcizado, eram os carismáticos que libertavam; ou seja, eram todos os cristãos que exerciam os seus carismas. Também hoje existem pessoas que possuem este carisma; são pessoas que vivem no anonimato, mas que têm poder sobre o Maligno.

Nós apercebemo-nos deste fato porque na sua presença, mesmo quando rezam em silêncio e retirados do grupo, o paciente começa a abanar-se todo. A sua presença é suficiente. São pessoas que, por terem este carisma da cura, asseguram a autoridade carismática do grupo. É uma experiência claríssima que já fizemos.

Utilizamos também o profeta em abundância. Quem é o profeta, o profeta bíblico? É um dom de Deus também presente nos nossos grupos. O profeta é quem recebe uma iluminação do Espírito Santo e nos dá indicações bíblicas. Com o avançar da oração, é que ele quem dá indicações que acertam em cheio o alvo; por isso, a oração é sempre guiada. Descobrimos, por exemplo, a origem de uma doença porque no decurso da oração o Senhor intervém sugerindo texto bíblicos adequados ao caso em questão.

Por exemplo, o profeta sugere: “Vamos ler Isaías 4,4 seguido de Ezequiel 8,2”. É criado um clima que nos orienta sobre como devemos agir. A presença do profeta é muito importante; por vezes, durante a oração, o Senhor conforta-nos, convida-nos a insistir, indica-nos a origem do mal.

Quando é possível, também está presente o Sacerdote que assegura a autoridade eclesiástica com o seu poder ministerial. E também há quem interceda; há pessoas que têm o carisma da intercessão. Quando um grupo é composto desta maneira, com a presença de vários carismas, é um grupo ideal para fazer o discernimento e para orientar a oração. Esta torna-se muito eficaz e nós apercebemos-nos da alegria, da paz e da serenidade que acompanham a libertação.
É claro que, no discernimento, prestamos atenção ao grupo infetado, à identidade dos espíritos do mal que atuam, no nível em que atuam e os objetivos que os movem.

Qual é a força da oração de libertação?


É uma pergunta que já várias vezes me fiz. A oração de libertação muitas vezes chega a substituir o exorcismo. Aliás, em certos caso não convém fazer o exorcismo, que deve reservar-se para as situações mais graves. Nos casos menores, ao contrário, é preferível a oração de libertação.
Exercendo este ministério, reparei na força extraordinária da oração de louvor: liberta uma força poderosíssima. E também reparei na força da Palavra de Deus, sobretudo das palavras de Jesus. Nós baseamo-nos muito nestes dois elementos: a oração e a Palavra.
No exorcismo oficial temos três elementos: a oração, a Palavra, a esconjuração. E, muitas vezes, a conjuração, ou seja, a ordem dirigida ao Maligno é resolutiva. Nos casos mais graves não podemos deixar de nos agarrar a ela, porque é a autoridade da Igreja que intervém.

Na oração da libertação, pelo contrário, a força decisiva é o louvor. É suficiente pensar em alguns casos bíblicos. Durante a batalha contra Amalec, Moisés reza sobre o monte: são os seus braços erguidos em oração que obtêm a vitória.
Jericó era uma cidade bem fortificada; e, no entanto, foi suficiente a oração de louvor a Deus, cantada em redor da cidade, para lhe derrubar as muralhas.
O Segundo Livro das Crônicas informa-nos sobre os israelitas que partiram para o deserto do Tecoa; Josafat colocou os cantores do Senhor, vestidos de paramentos sagrados, à frente dos homens, para que louvassem a Deus dizendo: “Louvai o Senhor porque a sua graça dura para sempre”. Assim que começaram os cânticos de júbilo de louvor, o Senhor preparou uma armadilha contra os inimigos de Israel, que foram derrotados.

A oração é forte, sobretudo no Novo Testamento. Cristo obteve a vitória decisiva sobre o Maligno e a oração de louvor, com esta vitória, reordena o universo perturbado pelo pecado. O Maligno tinha tentado apagar o louvor no céu, arrastando os anjos rebeldes para o inferno. Tentou, depois, interromper o louvor de Adão, o homem que devia fazer-se voz do universo e louvar o Criador.
Agora, cada vez que o inimigo ouve a oração de louvor, escuta a vitória de Cristo vitorioso sobre a morte, sobre o pecado e sobre os demônios. E Satanás sente uma inveja fortíssima, porque agora é o homem quem louva a Deus; no lugar que ele ocupava, agora, está o homem que se une aos Anjos e louva o Senhor. O Maligno sente-se frustrado na sua pessoa e nas suas obras; por isso reage com tanta veemência à oração de louvor.

A oração de intercessão também é muito potente. Constatamos isso no livro dos Atos, quando os Apóstolos estão na prisão e a Igreja reza por eles e se dá a libertação. Do mesmo modo, pouco depois, quando Pedro está preso, a Igreja reza; e Deus envia o anjo para libertar o Seu Apóstolo.
Também nas nossas orações, constatamos que o Maligno fica furioso, sobretudo, durante a oração de libertação e, freqüentemente, é durante esta oração que foge.

Sublinho, igualmente, a força de Palavra. Nós não esconjuramos, a não ser que esteja sempre um Sacerdote autorizado; mas atribuímos muita força à Palavra de Deus; experimentamos esta força e usamo-la largamente. Têm especial eficácia as palavras de Jesus e as outras citações bíblicas que nos são sugeridas. A palavra de Jesus derrota o inimigo. Quando fazemos a oração de libertação, pronunciamos lentamente as palavras de Jesus, escolhendo um dos vários episódios em que ele expulsa o demônio.
Trata-se de apresentar de novo a Jesus, de o fazer reviver naquela cena, de introduzir Jesus, o libertador. As palavras de Jesus pronunciadas nesse momento, com a força de Espírito, derrotam o inimigo, que grita e vai-se embora; e vai-se embora também quando é desmascarado por uma indicação bíblica.

Tal como o cântico de louvor, também a Palavra de Deus consola os aflitos, cura os corações dilacerados, cuida das feridas, infunde esperança, faz com que o paciente experimente pessoalmente a presença do seu libertador.
Já falamos da oração de louvor, da palavra de Jesus. Gostaria de acrescentar mais alguma coisa sobre o modo como estruturamos a oração. Existe uma libertação de (ou seja, uma libertação da presença do Maligno; por isso olha-se para ele) e uma libertação para (vantagem de; e, por isso, olha-se para a pessoa). Mais importante do que libertar de, é libertar para. Privilegiamos a libertação para enquanto trabalhamos pela libertação de. Ou seja, interessa-nos mais o irmão perturbado que o inimigo; a atenção vai toda para o irmão. E é por isso que solicitamos a sua colaboração de todas as maneiras. Em vez de expulsar o inimigo, procuramos resgatar-lhe o paciente.

A libertação pode ocorrer de duas maneiras. Imaginemos uma sala sem que esteja presente o Maligno e o paciente. Um método é o de apanhar o Maligno e expulsá-lo dali; se se consegue, o método é bom. Mas também já vimos que é mais fácil um outro método: aquele de agarrar o paciente e levá-lo para outro lugar, fora da sala, onde esteja em segurança. É o método que preferimos, interessa-nos mais o paciente do que o inimigo.

Interessarmo-nos pelo paciente significa estimulá-lo a rezar, solicitar a graça de Deus sobre ele e fortalecê-lo com os sacramentos, ajudá-lo a tomar consciência da sua situação para que saia dela. Vimos que, desta maneira, a libertação é mais fácil, pois transforma-se o homem infestado pelo Maligno num homem capaz de viver com o filho de Deus.

Com efeito, qual é a finalidade do Maligno?

É destruir o homem-cristão, o homem na sua identidade de filho de Deus. Nós, então, temos de o tornar capaz de viver a sua vida filial no Espírito Santo. Por isso, logo de imediato, invocamos sobre ele o Espírito Santo, para que preencha os espaços vazios, para que o corrobore de maneira a que, com a força do Espírito, possa arrepender-se e viver plenamente a proposta de vida cristã na fé, na esperança, na caridade.

Também tem muito peso a fé o amor daqueles que intervêm. Nós pedimos sempre ao Senhor uma grande fé; o nosso ministério exige muita fé; o Evangelho é claro. A nossa força é a fé de quem reza e a caridade para com Deus e para com o próximo.
A fé e a caridade ajudam-me reciprocamente muito bem. São Gregório Magno, falando acerca da pregação, afirmava que ninguém pode exercer este ministério se não tiver caridade para com o próximo. Nós dizemos o mesmo a respeito do ministério da libertação. O espírito maléfico não resiste ao amor; ele, que é fogo, tem medo do fogo do amor. Por isso, nós procuramos amar o doente, amar quem está infestado, para além de nos amarmos uns aos outros no grupo. Se não existe amor não se avança, porque o amor derrota o inimigo.

O esquema da oração.


O livro de Salvucci, indicazioni pastorali di um esorcista (Indicações pastorais de um exorcista) (Ed. Ancora), apresenta um plano muito bom. Nós o seguimos há já muito tempo.

1- A primeira coisa, a mais importante para começar, é a invocação do Espírito Santo: Veni, Creator Spiritus.

2- depois, fazemos o discernimento dos espíritos; também é um aspecto muito importante, que nunca podemos omitir. Pois, a tarefa mais difícil que o exorcista tem de desempenhar, mais ainda do que o próprio exorcismo é o diagnóstico.
É necessário identificar a maneira de atuar dos espíritos malignos também nos casos menos graves: tentação, vexação, sedução, infestação, circuncessão (de que se fala pouco). Estes modos de atuar apresentam constantes e diferenças, conforme a pessoa, o seu estado, a sua cultura e ambiente.

Uma das constantes é que, freqüentemente, os espíritos agrupam-se e unem-se uns aos outros. Se existe um espírito de ódio, facilmente entra também o espírito da ira e da vingança; o espírito de gula chama o espírito da luxúria e da indolência; o espírito da inveja é sempre seguido por um espírito de soberba. Estes espíritos podem camuflar-se sob a forma de presenças pessoais, que apenas são projeções da pessoa ou personalidades fictícias, sob a ação do espírito.

Outra constante é a sucessão dos espíritos.
Ao espírito que induz ao pecado segue-se um espírito de desespero, de depressão, de suicídio.
Ao espírito da gnose, que é muito freqüente e que diz respeito ao conhecimento das coisas ocultas, segue-se o espírito de confusão mental e de aberração, que altera o campo das idéias e das convicções.
Em conclusão, é necessário discernimento para identificar os espíritos que estão em atividade. Isto deve ser feito em relação às simples tentações, seduções, vexações; são os casos mais comuns e mais perigosos porque são obstáculos à vida cristã.

3- Após este discernimento e depois de verificar quais os objetivos ou direções de atividade que perseguem estes espíritos, prossegue-se com o esquema; cuidamos do doente através da oração. Segue-se uma brevíssima evangelização, em que apresentamos Jesus, o libertador; a finalidade é pôr em contato o paciente com aquele que liberta.
Chegamos a este ponto, todos intervêm com uma oração livre, sem esquema. E é bom que não se siga nenhum esquema porque cada caso é diferente dos outros. Intervém o profeta e lê-se a Palavra de Deus sugerida. Quando nos apercebemos de que algo começa a mudar na pessoa sobre quem reza, procuramos dar maior intensidade à oração, mediante a oração de intercessão.

Uma coisa importante para nós, antes de avançar para a oração de libertação, é assegurar-nos da presença de Cristo no meio de nós, porque quem liberta é Jesus. Não é difícil porque foi ele próprio quem disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18,20).
É nossa missão sentirmo-nos, ou seja, querermos estar reunidos em seu Nome. Experimentamos uma sensação de amor, alegria, de paz; parece quase que sentimos a presença operante do Senhor e, então, rezamos realmente com fé. Confiamos fortemente na Palavra de Deus, como nos é repetidamente indicado pelo profeta. Deste modo, prosseguimos com a oração até ao fim, sem nenhuma outra preocupação.

4- Assim que a libertação ocorre fica ainda algo por fazer. Seria um erro abandonar o doente após a libertação; libertar não é fácil, manter a pessoa livre é ainda mais difícil.

Todos os exorcistas já fizeram experiência de tantos casos de recaídas; e a causa, muitas vezes, é ter abandonado a pessoa após a libertação do maligno.
Por isso, convém que a oração de libertação seja seguida por um período de convalescença, quase uma terapia de recuperação. É absolutamente necessário.

O Evangelho fala-nos do espírito maligno que, assim que sai de uma pessoa, durante algum tempo anda errante por lugares desertos, depois procura outros sete espíritos piores do que ele e regressa à mesma pessoa, fazendo com que a situação desta fique pior que antes (cf. Mt 12,43-45).
Dá-nos o que pensar: é melhor não fazer a libertação se depois não se consegue assegurar um período adequado de convalescença. É necessário não só curar um paciente, mas também assegurar-lhe uma libertação completa e consolidada.

Compreendemos então por que razão para nós é muito importante esse segundo período. Foi com esta finalidade que instituímos serviços coletivos de cura e libertação; assegurando-los três vezes por semana; duram duas a três horas; com a participação de muita gente. Procuramos que todas as pessoas libertadas ou curadas intervenham nestes serviços.
A nossa maneira de proceder é a seguinte: Antes de mais nada um encontro sacramental com Jesus; preparamos as pessoas para a confissão antes da Missa, porque tem grande importância a purificação sacramental. Quando começa a Missa, iniciamos com a aspersão da água, ou seja, de novo com um rito de purificação que se apela ao Batismo. Na homilia, sublinhamos de novo o encontro com Jesus, presente na sua Palavra.

A oração do “Livrai-me” é solene: é o momento litúrgico da libertação. Neste momento tão especial pedimos de novo ao Pai, por Jesus presente na Eucaristia, a libertação moral e psicológica do espírito do mal, se ainda lá estiver.
Segue-se a comunhão; e, depois, os doentes, em procissão, dirigem-se para um amplo salão em que, de novo, apresentamos Jesus, o libertador. Ritos de purificação, invocações ao Espírito Santo, cânticos: deste modo, a ser acompanhado pela comunidade, e não deixado sozinho, após a libertação ou cura.

Assim, temos uma comunidade terapêutica, um comunidade de cura, onde todos aqueles que foram curados ou libertados participam e encontram, na comunidade que reza, o ambiente adequado para consolidar a libertação ou cura obtida.
Fonte: www.recados.aarao.nom.br

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